O Transtorno do Espectro Autista (TEA) influencia a socialização e a capacidade de adaptação do indivíduo, podendo resultar em instabilidade profissional e altas taxas de desemprego na vida adulta.
Por Emanuel Santana, CEO da Adapte, startup de impacto social que tem como missão incluir pessoas autistas e neurodivergentes na educação formal e no mercado de trabalho.
A cada dia, a diversidade tem se mostrado como uma vantagem estratégica. Empresas que cultivam equipes de gestão diversificadas desfrutam de resultados até 19% superiores devido à sua capacidade de inovar. Para quem possui times com diversidade cognitiva, a probabilidade de melhorar a performance financeira aumenta em 120%, segundo uma avaliação da consultoria global de recursos humanos Mckinsey.
Pessoas autistas podem contribuir com esse resultado, quando inseridas em empresas que respeitam e valorizam as singularidades individuais, e fornecem o suporte necessário para o desenvolvimento do colaborador. Onde haja condições para que possam não apenas ingressar, mas também permanecer de forma sustentável nos ambientes de trabalho.
O Transtorno do Espectro do Autista (TEA) afeta a forma de socialização e adaptação da pessoa, que, na vida adulta, pode enfrentar instabilidade profissional e ocupar os índices altos de desemprego. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem cerca de 2 milhões de pessoas autistas, e 85% delas estão desempregadas, como afirmado pela Câmara dos Deputados (2023). A legislação e políticas públicas que garantem a inclusão de autistas no mercado de trabalho não asseguram a sua ocupação na prática.
Incluir pessoas autistas no mercado de trabalho é importante para empresas e para a sociedade em geral. No entanto, para que esse processo seja efetivo, é fundamental que as organizações estejam preparadas para receber e valorizar esses profissionais, que têm formas diferentes de pensar. Isso significa investir em treinamento para líderes e equipes e em mudanças na cultura da empresa. É importante que todos compreendam e apreciem as contribuições únicas que as pessoas autistas podem oferecer. Os líderes devem estar abertos a diferentes perspectivas e prontos para adaptar as rotinas de trabalho conforme necessário.
O processo de contratação também não pode ser obstáculo. É preciso focar na construção de vínculos e afinidade com os candidatos, ampliando o tempo dedicado a essas etapas e também fornecendo recursos, como por exemplo, óculos escuros e abafadores de ruídos, para atender às necessidades sensoriais dos candidatos e futuros membros dos times. É igualmente importante sensibilizar os entrevistadores para possíveis adaptações na comunicação, garantindo uma interação mais inclusiva. Além disso, é essencial o feedback claro e ágil para garantir uma compreensão clara do processo e das expectativas da empresa.
Também é necessário ter em mente que a inclusão começa no processo de recrutamento e continua após a sua contratação. A experiência da jornada do colaborador também precisará ser adaptada, pois existem autistas com diferentes demandas sensoriais e com habilidades e hiperfocos diversificados.
Empresas podem investir em treinamentos específicos para obterem orientação sobre como implementar práticas inclusivas eficazes que abordem as necessidades específicas desses colaboradores.
O CooTEA, programa de cooperação para treinamento e emprego apoiado de autistas disponibilizado pela Adapte, tem auxiliado organizações na promoção dessa inclusão, oferecendo apoio também para as empresas na supervisão desses talentos neurodivergentes a fim de promover um ambiente mais equitativo e acolhedor.
As empresas estão acostumadas a resolver problemas, muitas vezes inusitados, e para isso é necessário contar com um conjunto de talentos, diversas capacidades e múltiplas formas de pensar. As que incluem pessoas autistas ganham um conjunto de habilidades únicas, como pensamento fora da caixa, atenção aos detalhes e, em muitos casos, maior produtividade.
Aumentar a neurodiversidade também trará vantagens como a melhor administração de conflitos e resolução de problemas, desenvolvimento de sentimentos de empatia, maior paciência e tolerância, cultura de inovação e desenvolvimento de estabilidade emocional em ambiente sob pressão.
Contratar autistas é uma estratégia que vai além de impulsionar o sucesso das organizações. É uma demonstração do compromisso ético de uma marca com uma sociedade.