Consultoria analisa as mudanças inevitáveis que os avanços tecnológicos, associados às novas demandas sociais, vão exigir das empresas e pessoas
Controle de informações, novas formas de trabalho, segurança no ambiente digital e acesso à inovação, qual o limiar entre benefício e risco nos itens citados? E qual o peso da decisão humana para a evolução desses temas? “As respostas para essas perguntas são complexas, tal qual o nosso futuro. Enquanto cidadãos, profissionais e seres que pensam, temos o dever de inspecionar os avanços tecnológicos e criticar as distorções que eles podem causar. Por outro lado, determinados desafios serão inerentes ao processo evolutivo dos recursos que estamos criando agora. Portanto, a tecnologia vai nos impor questões urgentes. Empresas, governos, sociedade civil, enfim, nosso ecossistema terá que lidar com novas soluções, mas também novos problemas e oportunidades de melhoria. Em primeira instância, a educação precisará ser encarada como um projeto de autodesenvolvimento perene, pois teremos que estudar e trabalhar muito, já que viveremos mais e seremos exigidos intelectualmente como jamais visto na história humana”, afirma Ricardo Basaglia, diretor-executivo da Page Personnel, empresa global de recrutamento especializado em profissionais de nível técnico e suporte à gestão, parte do PageGroup.
Confira a análise do consultor sobre os 5 desafios e um alerta que o desenvolvimento tecnológico vai impor ao futuro do trabalho e das nossas vidas cotidianas:
1 – Privacidade (quem nos protege de nossos dados?)
É estimado que até 2020 haverá ao menos 50 bilhões de dispositivos no mundo capazes de abrigar algum grau de inteligência artificial. Pensemos aqui em smartphones, banco de dados, redes digitas, enfim, sistemas em geral. A imensa capacidade de armazenamento e distribuição de dados inevitavelmente vai ampliar os investimentos em segurança, seja do setor privado ou público. Nossas vidas, preferências culturais, hábitos de consumo, serão facilmente inspecionáveis por conta da conectividade. E fica a pergunta: quem nos protegerá da inspeção e disseminação de dados? Quem estará à frente dos campos de estudo e regulamentação para que haja êxito na definição de privacidade no ambiente digital? Ainda não sabemos os desdobramentos, mas já temos hoje alguns exemplos bem definidos da emergência do assunto: fake news, manipulação política, espionagem em redes sociais etc.
2 – Algoritmos enviesados (transmissão digital de preconceitos?)
À medida em que os algoritmos são programados por seres humanos, há interferência direta no momento de transmitir suas impressões/preconceitos/desconhecimentos/passionalidades para a programação. É nesse instante que nasce o termo algoritmo enviesado. Um algoritmo é um comando exato para que uma tarefa possa funcionar no ambiente digital. Mas ele sozinho não pode ter nenhum viés. Essa peculiaridade é absolutamente humana. Somos nós que estabelecemos os padrões éticos dos sistemas que criamos para dar conta de nossas soluções.
3 – Acesso à disruptura tecnológica (como evitar tendências de exclusão?)
Quando a tecnologia alterar as camadas mais profundas da sociedade, será que a maior parte das pessoas do mundo terá acesso a esse monumental mundo computacional? Fica a pergunta: a tecnologia disruptiva estará ao alcance de todos? De empreendedores, jovens, dos mais longevos, dos países fora do grande eixo econômico global. Será crucial lutar contra qualquer tipo de privilégio tecnológico na mediação e captação de dados e recursos de aplicação, seja por parte da iniciativa privada ou pelos governos. O desafio da acessibilidade tecnológica abrirá uma nova esfera para pensarmos os direitos, deveres e renúncias que teremos que fazer para garantir que tecnologia não promova as mesmas exclusões que a economia tradicional faz.
4 – Senso humano (como ampliar a habilidade de ser quem somos?)
Como as marcas vão afetar nosso comportamento social, interação no ambiente público, escolhas afetivas e estilos de vida? Isso ainda não sabemos. Porém, é certo que a mentalidade criativa, a capacidade de solucionar problemas e criticar profundamente essas próprias inovações, ainda são – e provavelmente serão por muito tempo – habilidades puramente humanas. E o senso humano, que inclui pensamento crítico, capacidade de arrependimento, entre outros, não poderá ser eliminado da concepção original por trás dos trabalhos, processos de inovação, regulações políticas e bases educacionais e econômicas do futuro. Grandes especialistas afirmam que as nossas sensibilidades humanas mais prosaicas serão cada vez mais importantes para o futuro do trabalho e a razão é simples: robôs, redes digitais, sistemas de informação e até mesmo a inteligência artificial não são capazes de produzir resultados a partir de conceitos como empatia, atenção redobrada, foco em pequenos detalhes, capacidade de arrependimento, entre outros. Afinal, essas são formulações exclusivas da mente humana, da nossa consciência, ou seja, são raríssimas na natureza e impensáveis em produções tecnológicas.
5 – Mau uso da inteligência artificial (quando o avanço não é progresso?)
De acordo com Elon Musk, “a inteligência artificial pode trazer mais perigos do que a Coreia do Norte”. A frase é em tom de piada geopolítica, mas nos desperta um alerta: computadores com base em IA poderão aprender novas informações por meio reconhecimento de voz, de texto, scanner de estados emocionais, enfim, essas máquinas também podem ser um espelho da sociedade, evidenciando com uma profundidade nunca vista na história humana as nossas mais variadas imperfeições. Haverá uma série de cuidados que a IA nos forçará a refletir, talvez tenhamos até uma legislação nova para mediar a programação de certas tecnologias e serviços.
Alerta: Desemprego x mudança no paradigma profissional
O emprego, ou a categoria que utilizamos hoje para interpretar e regular as atividades profissionais, deverá sofrer com a eliminação de modelos de ocupações e noções atuais de carreira. Isso é fato. Porém, o conceito de trabalho humano jamais vai desaparecer. E isso muda completamente a nossa visão de futuro. O paradigma profissional sofrerá mudanças radicais. A tecnologia vai ampliar o trabalho à distância, alterar a gestão do tempo e até o vínculo das pessoas com a corporações. Teremos a possibilidade de trabalhar em diferentes projetos para diferentes segmentos e empregadores. Portanto, é certo: a tecnologia jamais poderá eliminar a função humana do trabalho, mas sim redefinir a organização em torno do tema. Paradigma é modelo. E o modelo vai mudar, mas a necessidade de pessoas realizarem atividades produtivas e remuneradas, não. Isso é fundamental para evitar catastrofismos na sociedade.