Para inovar, é preciso acumular novas experiências, observar o mundo, desenvolver curiosidade e estimular a tentativa, abraçando o erro, se houver
Colunista Mundo RH, Lilian Giorgi, Managing Director of Human Resources at A&M Brasil
A forma como os brasileiros administram o próprio tempo tem mudado nos últimos anos, principalmente pelo avanço da tecnologia e a crescente conectividade digital. Segundo levantamento recente da Electronics Hub, aqui no Brasil, a população em idade adulta dedica, em média, nove horas diárias aos seus dispositivos eletrônicos. E, do total de horas, quase quatro são gastas para acessar as redes sociais.
Essa estatística reflete uma tendência global de aumento do tempo gasto em atividades online. Dentre os países pesquisados, o Brasil ficou em segundo lugar no quesito média de horas em frente às telas de dispositivos eletrônicos, atrás apenas da África do Sul. O estudo indicou que os brasileiros ficam mais da metade do tempo em que estão acordados (56,6%) conectados ao mundo virtual.
O que importa nesse estudo é o verbo “gastar”. Será que estamos gastando nosso tempo adequadamente? Não tenho a resposta certa. Quero apenas provocar a reflexão, sem juízo de valor, mesmo porque estou incluída nessa lista. Convido você a pensar comigo e, quem sabe, pavimentarmos juntos uma avenida nova que nos leve a uma ideia do que é possível fazer para administrar melhor o nosso tempo nesse mundo tecnológico, dinâmico e veloz.
Tema de estudo em filosofia, religião e ciência, o tempo é parte da estrutura fundamental do universo. É uma questão de prioridade. Então, pergunto: Como temos usado o nosso tempo? Tenho a impressão de que nunca estivemos tão ocupados, mas também nunca estivemos tão sós. E nunca se falou tanto sobre ansiedade como atualmente. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) apontam que os casos de depressão e ansiedade tiveram um aumento de 30% durante a pandemia.
E já que foram convidados a essa reflexão, aproveito para mais uma provocação: essa dinâmica atrapalha ou ajuda na construção do pensamento inovador?
Sabemos que a inovação é a exploração, com sucesso, de uma nova ideia. É respirar o novo e construir repertório, transformando-o num novo produto ou negócio que agregue valor para o mercado. Uma pequena palavra, mas carregada de muito significado, e que faz parte dos planos estratégicos da maioria das empresas.
Para inovar, é preciso acumular novas experiências, observar o mundo, desenvolver curiosidade e estimular a tentativa, abraçando o erro, se houver. E não fazemos isso olhando sempre para os mesmos lugares, sentados no mesmo banco, executando as mesmas coisas.
Se você quer inovar, é fundamental ter um repertório amplo, que permita fazer conexões inusitadas entre diferentes informações. Um caminho para estimular esse processo é viver diferentes experiências: viajar, ir a museus, ler livros, escutar outros tipos de músicas, conversar e conhecer novas pessoas. Nada é descartado. É preciso estar atento a tudo que acontece ao redor: da arte à tecnologia.
Mas tudo isso demanda tempo, aquele mesmo, do início do texto, que está sendo gasto principalmente em um mundo digital. E, para estimular a reflexão e a beleza, que também é importante para nos inspirar, transcrevo abaixo um trecho da música “Oração Ao Tempo”, de Caetano Veloso. É sobre isso.
“Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo”
(trecho retirado da música: Oração Ao Tempo/Caetano Veloso)