Nelson Andreatta é CEO e fundador da Eats for You, uma ESG foodtech.
Impossível falar de alta performance profissional e saúde mental sem falar em autoconhecimento, em olhar para dentro de si e entender o que cada um deseja genuinamente entregar. A grande pergunta é: com o que trabalho ou projeto faz sentido conectar para superar as demandas desafiadoras do mercado?
A vida toda nos aconselharam a sair da nossa Zona de Conforto para crescer. Pois eu discordo veementemente, e vou explicar por que. Temos que estar confortáveis para extrair o melhor de nós, em um ritmo de crescimento orgânico, evoluindo, nos adaptando naturalmente aos desafios, tirando o melhor deles — e não lutando contra eles.
Você não tem que acordar às 5h da manhã porque um livro ou coach disse que, para ser produtivo, é preciso. Se o seu melhor horário de trabalho é o noturno, provavelmente às 5h estará indo dormir, e tudo bem.
Um rio, por exemplo, quando encontra uma pedra, não usa toda sua força para deslocá-la. Primeiro, ele a contorna, se adapta à sua presença e segue seu fluxo, sem gastar tanta energia para tirá-la do caminho. Porém com constância, propósito e tenacidade o rio vence; a pedra se desloca e a água segue o seu curso tranquilamente. Mais do que isso. Com o tempo, molda seu caminho contornando pedras ainda maiores. Trazendo esta sabedoria da natureza para o mundo pessoal e profissional é quando construímos um legado.
É importante não confundir Zona de Conforto com Zona de Acomodação. Uma pessoa acomodada se sente desmotivada, pouco produtiva, não cresce e não tem um propósito. Totalmente diferente de quando se está confortável e se sente inspirada, produtiva, com propósito e crescimento frente aos desafios, sempre alinhados às suas características.
Na sua Zona de Conforto, você consegue identificar até onde estaria disposto a ir para realizar e construir; ou seja, qual é o seu desejo real. E isso só é possível por meio do autoconhecimento, da clareza sobre seus pontos fortes e fracos. A partir da estratégia para potencializar o que tem de melhor, ao invés de focar onde você não é tão bom, irá se livrar do peso de ser bom em tudo, imposto na escola desde a infância. E não, você não tem.
Outra boa metáfora para trazer aqui é a do peixe. Ele jamais será bom em subir em árvores e se for forçado a tentar, gastará uma energia absurda tentando fazer o que nunca conseguirá. Mas, se esse peixe for estimulado a dedicar sua energia naquilo que tem de melhor, em sua Zona de Conforto, se tornará um exímio nadador.
Hoje, os profissionais são provocados pelo sistema a saírem de suas zonas de conforto e a se dedicarem a funções que nem sempre lhes são confortáveis. Como um efeito rebote, isso cria um ambiente contraproducente e altamente estressante, levando a perda da saúde mental e casos extremos de Burnout. No Brasil, conforme dados da International Stress Management Association (Isma), a Síndrome de Burnout afeta cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros.
Não por acaso, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o Burnout, também conhecido como Síndrome do Esgotamento, como uma doença ocupacional.
Na pandemia, então, o número de profissionais que padeceram com o Burnout aumentou. Segundo pesquisa feita pela LHH do Grupo Adecco, empresa suíça de recursos humanos que atua em 60 países, 38% dos entrevistados dizem ter sofrido Burnout ao longo de 2021. Por isso, reafirmo, ninguém sustenta Zona de Desafio por muito tempo.
Para produzir em um ciclo de melhoria contínua e inovação, é necessário estar em sua Zona de Conforto. Quando professores, orientadores, mentores e líderes focarem em potencializar os pontos fortes nas pessoas, ajudarão na formação de profissionais felizes, produtivos, sem sofrimento e buscando incansavelmente — não empregos, mas problemas para resolver de maneira sustentável. Somente assim, construiremos uma sociedade mais justa para todos, poupando nosso planeta, por meio do nosso trabalho diário.