Precisamos preparar nossos talentos para a ‘virada de chave’ rumo a um novo mundo
Se o mundo está cada vez mais digital, as organizações precisam acompanhar essa tendência ou correrão o risco de morrer pelo caminho. É por esse motivo que existe uma transformação em curso em grande parte das empresas. E o termo escolhido não poderia ter sido mais acertado, porque não estamos falando ‘apenas’ de uma mudança.
Mudar, muitas vezes, deixa a sensação de que se trata de algo pontual e que há possibilidade de voltar à posição anterior. Já a transformação é mais profunda e definitiva. Uma coisa transformada é uma coisa nova, de alguma forma.
E como os colaboradores vão absorver o impacto dessa evolução? Há uma forte corrente de especialistas que são categóricos ao afirmar que a transformação digital tem muito mais a ver com gente do que com tecnologia. Eu concordo. Precisamos preparar nossos talentos para a ‘virada de chave’ rumo a um novo mundo, que traz consigo a necessidade de adotar metodologias ágeis, voltadas para a inovação.
Trata-se de um movimento que requer, principalmente, desapego. De certa forma, a própria hierarquia, muitas vezes tão criticada, chega a ser confortável. Temos enraizado que não devemos ultrapassar limites – a começar pelo nosso espaço de trabalho. Com a transformação digital, o mindset é invertido.
Para se desapegar, é inevitável enfrentar conflitos e diálogos mais ‘quentes’, tanto com o colega quanto consigo mesmo. Sabe aquele sapato que a gente não usa há três anos? Sempre que olhamos pra ele temos um diálogo interno: voltar a usá-lo ou desfazer dele de uma vez? É desse tipo dilema interno que estou falando.
Uma situação que ilustra bem o desapego pode ser observada dentro do próprio RH. A área evoluiu com a crença de que números não fariam parte do negócio. Com o surgimento do people analytics, passamos a ter necessidade de pensar em dados, sem deixar de entender de gente. Portanto, para acompanhar o mercado e evoluir, precisamos abrir mão do que sempre acreditamos.
O desapego nada mais é que se abrir para o diferente, desde usar outro modelo de sapato – afinal, há tantas opções mais bacanas, modernas e confortáveis do que aquele jogado no armário -, até desenvolver novas habilidades profissionais. Mas não é um exercício fácil, é doloroso.
Nas empresas, caberá a nós que zelamos pelos talentos reduzir o máximo possível o estresse e o sofrimento. E isso é possível por meio da abertura ao diálogo, criação de canais bem estruturados para ouvir a voz dos colaboradores e dar clareza sobre a meta a ser atingida.
Também é responsabilidade da gestão de pessoas garantir o equilíbrio entre o comportamento e o ambiente. O design de estrutura organizacional deve permitir que a transformação aconteça. A área de RH deve orquestrar a transição do modelo como um todo, orientando as lideranças, revendo políticas e garantindo que o discurso não seja diferente da prática. A empresa não pode, por exemplo, dizer que estabeleceu um ambiente propício ao erro e punir o colaborador na primeira vez que ele errar.
Ao criar um contexto de transformação, o foco deve ser que os funcionários alcancem um novo patamar, evoluindo a cultura organizacional de forma coerente e consistente. É nisso que precisamos apostar e investir.
Por Cida Garcia – Diretora de Talentos Humanos da Algar Telecom