Como a neurociência e estratégias eficazes podem acelerar o aprendizado e impulsionar resultados no ambiente corporativo.
Charles Betito – fundador da MIND Station e especialista em educação corporativa e saúde mental.
O aprendizado é uma necessidade constante no mundo corporativo. Seja para acompanhar novas tecnologias, entender um novo sistema ou desenvolver habilidades, o processo pode parecer lento e desafiador. No entanto, a ciência do aprendizado mostra que avançar depende menos de talento inato e mais da maneira como o conhecimento é estruturado e praticado.
A neurociência comprova que aprender é um processo dinâmico, no qual as redes neurais se organizam e se fortalecem. Isso não acontece de forma automática, exigindo estratégias eficientes e prática contínua. Compreender os mecanismos cerebrais envolvidos pode ser um diferencial para otimizar a assimilação e aplicação de novas informações no ambiente profissional.
A sensação de estar patinando diante de um novo aprendizado, mesmo com muito esforço, é frustrante. Parece que, não importa o quanto tentemos, o progresso não vem – como andar contra uma correnteza que nos puxa para trás. Entender o que acontece no nosso cérebro pode mudar completamente a maneira como lidamos com desafios e acelerar nossa evolução em qualquer área. Afinal, por que algumas pessoas aprendem tão rápido enquanto outras se sentem travadas? Como pequenos ajustes podem transformar nosso jeito de aprender? E por que, mesmo tentando tanto, às vezes o progresso simplesmente não acontece?
É importante ressaltar que aprender não significa apenas absorver informações. É como construir um caminho que conecta dois pontos antes isolados. Toda vez que aprendemos algo novo, nosso cérebro cria uma ponte única entre os neurônios. Essas conexões, chamadas de sinapses, tornam-se mais fortes e acessíveis com o tempo, desde que sejam praticadas e mantidas ativas.
Eric Kandel, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, demonstrou em seus estudos que a repetição de estímulos reforça essas conexões. É como uma trilha na floresta: no início, é estreita e cheia de obstáculos, mas, com o uso contínuo, transforma-se em uma estrada pavimentada, facilitando o caminho.
Isso vale tanto para grandes desafios, como aprender a tocar um instrumento ou falar outro idioma, quanto para atividades simples – como entender um novo programa no trabalho ou lembrar das tarefas do dia. Quanto mais repetimos, mais fácil se torna. Nosso cérebro, de forma literal, cria caminhos melhores para acessar o que foi aprendido. É assim que o conhecimento deixa de ser algo externo e passa a fazer parte de quem somos.
Cada cérebro é como uma impressão digital. Apesar de termos as mesmas estruturas, as conexões que criamos são únicas, moldadas por nossas experiências e desafios. Isso significa que cada pessoa aprende de maneira singular. No trabalho, por exemplo, algumas pessoas preferem gráficos e tabelas, enquanto outras aprendem melhor ao trocar ideias em grupo ou resolver problemas na prática.
A teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida por Howard Gardner, enfatiza que não existe um único jeito certo de aprender ou resolver problemas. Psicólogo e educador da Universidade de Harvard, Gardner propõe que respeitar essas diferenças é essencial para que o aprendizado faça sentido e gere impacto.
No ambiente empresarial, otimizar o aprendizado pode elevar a produtividade e a inovação. Empresas que investem em treinamentos interativos, experiências imersivas e abordagens multissensoriais aumentam significativamente a retenção do conhecimento entre os colaboradores.
Ao aprender algo novo, a combinação de diferentes formas de ensino pode potencializar os resultados. Ler materiais de referência, assistir a demonstrações, realizar simulações práticas e ensinar o conteúdo a terceiros são estratégias complementares que facilitam a absorção do conhecimento.
A neurociência do aprendizado demonstra que o conhecimento não depende exclusivamente de esforço, mas da forma como as informações são organizadas e reforçadas. Adotar métodos cientificamente comprovados pode transformar a maneira como profissionais e empresas evoluem em um cenário de mudanças constantes.