2020 foi, sem dúvidas, um ano único em termos de obstáculos a serem vencidos. Diante da maior crise sanitária, social e econômica de nossa história recente, as organizações, de todos os segmentos, tiveram de repensar seus caminhos para preservar seus legados no mercado, cuidar de seus colaboradores em um momento tão delicado e, claro, se preparar para o futuro e para o vastamente debatido “novo normal”.
Dentro desse contexto de adversidades, o saldo positivo que podemos extrair envolve os conceitos de aprendizado e resiliência. Afinal de contas, se fomos e continuamos sendo capazes de superar os desafios do momento atual, isso se dá porque, atrelada à crença nos valores de nossos negócios, tivemos abertura para buscar novos caminhos, em prol do crescimento e de continuarmos gerando oportunidades que podem contribuir com o fortalecimento econômico do país.
Que esse momento sirva, nesse sentido, para que nos tornemos mais fortes, para que adquiramos novos conhecimentos que poderão ser os diferenciais de nossas empresas no momento de retomada econômica.
Acima de tudo, essa é a hora de nos reinventarmos. Quando somos capazes de quebrar paradigmas e fazer as mudanças necessárias para evoluirmos, crescemos não só enquanto empreendedores, mas enquanto seres humanos, dispostos constantemente a aprender com a imprevisibilidade.
O impulso para a inovação
Outro ponto que não pode passar despercebido: todo impulso de inovação e de criatividade nasce da identificação de uma dor do mercado, de uma demanda não suprida ou da busca por alternativas que respondam a um cenário de crise.
Neste sentido, uma pesquisa da KPMG (presidida pelo amigo Charles Krieck) com CEOs de todo o Brasil divulgada em outubro do ano passado atestou um movimento interessante: para 67% dos executivos consultados, a transformação digital de suas empresas avançou meses ou anos no período da pandemia de COVID-19. Além disso, para 87% deles, foi necessário investir na contratação de profissionais aptos a lidar com novas tecnologias, sistemas de automação e inteligência artificial.
A poucos dias, neste mesma linha, a 24ª pesquisa “CEO Survey” da PwC (cujo sócio-presidente é o também amigo Marcos Castro), que contou com a participação de CEOs do Brasil e do mundo, reforça, por exemplo, que 61% dos executivos pretendem aumentar significativamente seus investimentos em transformação digital, além de aumentar a produtividade por meio de automação e tecnologia (45% dos entrevistados) e otimizar a busca por eficiências operacionais (89%).
Ou seja: a necessidade de reinvenção das companhias acelerou um movimento de digitalização que, a bem da verdade, há muito tempo já batia à porta. E outra prova desta corrida pela inovação foi o impressionante crescimento de 64% em 2020 no número de investidores que destinaram recursos para a aceleração de startups.
Essa é outra lição positiva que podemos extrair de um ano tão desafiador: em um mercado mais aberto para parcerias e para a inovação aberta, contextos colaborativos serão a regra e não a exceção dentro de um ambiente de negócios em plena mudança.
O papel da liderança
Mas, para que possamos realmente transformar adversidades em oportunidades de reinvenção, as lideranças das organizações têm de assumir, mais do que nunca, seus papéis de condutores desta transformação. Sobre esta questão, o consultor David Lancefield, em artigo recente para a Harvard Business Review, oferece algumas dicas valiosas que podem orientar os gestores em cenários de crise. Lancefield destaca, por exemplo, que a comunicação dos líderes deve seguir quatro pilares centrais:
Reconhecimento: no sentido de reforçarmos e valorizamos o esforço de cada colaborador dentro de um cenário de crise;
Honestidade: clareza e transparência são fundamentais para que a organização, como um todo, possa entender os caminhos que estão sendo traçados;
Aspiração: compartilhe com os gestores as aspirações sobre que tipo de empresa você deseja criar e esteja disposto a repensar trajetórias e narrativas – mas sempre com uma dose de pragmatismo e sensibilidade para o momento de crise;
Comprometimento: e aqui mora o ponto principal – precisamos estar comprometidos com a mudança, a descartar práticas que não funcionam mais e dar o impulso que a empresa precisa para construir um novo futuro.
Nosso legado caminha com o novo
Dito isso, não devemos confundir a mudança com a quebra de todo e qualquer legado. Mesmo quando embarcamos em uma transformação disruptiva, o aprendizado colhido ao longo de nossa trajetória é a base que nos dá a sustentação necessária, para enfrentarmos os desafios que, afinal de contas, fazem parte tanto da jornada da vida quanto da jornada empreendedora.
Por isso, ao mesmo tempo em que nos abrimos para o novo, inovando, vencendo obstáculos e conquistando maiores e mais complexos objetivos, não podemos esquecer de nossa história e de onde tudo começou. Você concorda?
Por Alexandre Velilla Garcia – CEO do Cel. Lep