A intenção é ajudar os países a desenvolver estratégias para detectar, reduzir e controlar as práticas de corrupção
O Instituto Internacional de Planejamento da Educação (IIPE- UNESCO) analisou – na Série de Políticas Educacionais – o tema “Corrupção e Educação”. Tratou desde a questão de como definir corrupção no setor de educação até como melhorar a transparência em cada domínio do planejamento da educação e da gestão do processo educacional. A intenção é ajudar os países a desenvolver estratégias para detectar, reduzir e controlar as práticas de corrupção e contribuir assim para tornar os sistemas mais eficazes e mais justos.
Na conclusão, mostra a importância de uma mudança de atitudes, recomendando, em particular, a adoção de códigos de conduta, o fortalecimento da capacidade institucional em setores mais relevantes como a gestão, o direito à informação dos usuários e, em especial, uma vontade política forte em todos os níveis do sistema.
Em síntese, ressalta-se a relevância de uma ética com valores aceitos e aplicados efetivamente em todos os níveis do sistema educacional. É essencial ter um quadro de valores não apenas aceito, mas efetivamente demonstrado em comportamentos, em todos os níveis da gestão e na execução dos processos educacionais. Tal raciocínio parece simples e claro. Mas se torna complexo e de difícil aplicação se considerarmos o que ocorre na sociedade brasileira.
Estamos em um país em que notícias são divulgadas ressaltando crimes cada vez mais cruéis, sem considerar consequências. Em que a justiça é lenta, muitas vezes de forma proposital, para chegar à impunidade. Em que presos por motivos banais ficam à mercê de criminosos de alta periculosidade. Em que duas das frases mais famosas de um personagem de sua história, Rui Barbosa, que viveu no final do século 19 e início do século 20, apontam a falta de ética no país: “(…) o que nodoa uma sociedade não são os crimes que nela se praticam, descobrem e punem; são os crimes impunes, são os crimes perdoados, são os crimes animados, galardoados, coroados com os triunfos pelas grandes instituições e pelas grandes assembleias do país.
Isto, sim” e, em manifestação no Senado Federal, “(…) de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” Tais frases podem ser consideradas atuais, após decorridos um século.
Como mudar essa situação?
Dependemos de um pacto entre várias esferas da sociedade.
Para iniciar, é essencial contar com a mídia, principalmente a televisão, que chega a todas as regiões e molda comportamentos com padrões que veicula. Em novelas, com grande público, o cuidado de não incentivar atitudes antiéticas.
Nos órgãos governamentais, o planejamento e a gestão de acordo com o código de ética existente, que fornece parâmetros para a atitude daquele que representa e serve à população. Na família, o cuidado em uma formação ética sólida, em que a convivência seja oportunidade de praticar atitudes condizentes com os valores assumidos. De nada adianta pregar sobre o que é certo e o que é errado, se os pais cometem pequenos deslizes no dia a dia.
Na escola, podem ser transmitidos valores da igualdade e do repúdio à discriminação, enfim, a valorização da justiça social. Na escola, também, esses valores podem ser praticados pelos educadores, numa pedagogia do exemplo. Tal pedagogia se efetiva quando, em qualquer situação, o professor trata alunos com igualdade, estimula a solidariedade, respeita a diversidade, não introduz regra ou norma como imposição, mas apresentando sua justificativa e seu objetivo. Ainda leva os alunos a reconhecer que uma pessoa só poderá ser feliz ao fazer o certo, respeitar o outro, ser aceito como parte integrante e ativa da sociedade.
Educadores, de forma complementar e articulada com a família, os órgãos dos poderes executivo, legislativo e judiciário, entre outros atores, podem contribuir para uma nova nação, centrada no respeito dos limites e dos direitos de cada pessoa.
São imprescindíveis a legitimação – por todos – de valores positivos (tais como o respeito ao outro, a solidariedade, a virtude) e o reconhecimento da premência do combate ao crime, ao vício e à injustiça.
Precisamos, cada vez mais, um pacto social, que dissemine atitudes éticas – individuais e coletivas -, para que a nossa juventude passe a encontrar sentido em viver e conviver, deixe de contestar fora de um quadro de valores e princípios, sinta-se estimulada a contribuir para criação de uma sociedade efetivamente justa.
Por Walter Vicioni Gonçalves – Diretor Regional do SENAI-SP e Superintendente do SESI-SP, licenciado até 07/10/2018.