Muitas organizações chegaram naquele momento crítico em busca pela verdadeira transformação digital. Embora existam sinais motivadores daqueles que alcançam com sucesso o equilíbrio entre a transformação e a “manutenção das luzes acesas”, muitos sofrem com aquela liderança digital pouco inspiradora e o foco equivocado para atingir seus objetivos.
Pesquisas do Relatório de Benchmarking Digital Means Business de 2019 da NTT mostram muitas dessas preocupações. As pessoas estão desiludidas. A promessa de evoluir e transformar é superficial e, quando os tempos ficam difíceis, muitos são julgados por voltar ao básico. No Brasil, onde o desemprego assombra o colaborador frequentemente, é natural que muitos optem por manter o que está dando certo, mesmo que o resultado possa ser melhorado com algumas transformações.
A liderança sênior precisa mudar. Agora, mais do que nunca, é o momento de as organizações deixarem de lado o desconforto em relação à incerteza e tomar medidas corajosas e decisivas para avançar na transformação digital. Embora os profissionais mais experientes tenham um certo receio com a tecnologia em si, é hora deles perderem o medo e a enxergarem como uma aliada, pois manterem-se inertes às mudanças digitais pode representar riscos fatais às organizações.
O olhar duro sobre liderança
Todos devemos reconhecer que a transformação digital bem-sucedida depende de uma liderança forte e fluida. No entanto, apenas 11% das pessoas estão satisfeitas com os responsáveis por defender essas mudanças digitais. É uma estatística condenatória e prova de que é hora de os líderes darem uma olhada longa e dura em si mesmos.
A falta de confiança também expõe uma desconexão significativa entre o que os líderes estão planejando para o futuro dos negócios, e como realmente chegarão lá. Existe uma falta de clareza em relação aos objetivos a médio e longo prazo e o que eles farão para atingir os objetivos traçados. Às vezes, nem todas as etapas são concluídas e a sensação de que os negócios estão parados ou retrocedendo pode desmotivar.
Por essa razão, os líderes precisam ter influência sobre o comportamento dos seus colaboradores para levar a transformação da empresa adiante. Mas, com quase metade das pessoas (48%) admitindo que sua liderança atual dificulta os esforços de transformação digital, fica claro que essa narrativa está falhando em se transformar em realidade.
Essa atitude perigosa pode prejudicar o trabalho dos profissionais mais novos. As pessoas querem trabalhar para uma organização que está realmente gerando mudanças positivas, inovando e constantemente desafiando o padrão. A frase ‘conversa fiada’ soa verdadeira aqui – e as pessoas não têm medo de mexer os pauzinhos e se mudar para outro lugar caso o empregador não cumpra suas promessas.
No entanto, convencer um CEO a fazer seu trabalho de maneira diferente pode ser uma tarefa assustadora. A autorreflexão é uma qualidade difícil de encontrar, por isso é importante comunicar a eles que eles têm uma obrigação para com seu pessoal. Uma mudança na mentalidade do líder tem o potencial de transformar o comportamento da organização, influenciar sua cultura, mudar suas prioridades e transformar essas promessas superficiais em uma realidade tangível.
Infelizmente, a dura verdade é que muitos CEO’s estão mais preocupados em “manter as luzes acesas” e ver a transformação como algo para se preocupar mais tarde. Mas aqueles que estão mudando essa mentalidade colhem as recompensas. Manter as luzes acesas não é fácil neste período tumultuado e, embora seja compreensível que os líderes estejam focados em sobrevivência, eles também estão buscando isso as custas de uma transformação.
Interrupção e ilusão – a jornada interminável do digital
É importante perceber que essas mudanças são adicionais, não derivadas de algum grande plano digital que requer uma transformação instantânea e radical. Não é necessário gastar muito tempo e esforço tentando responder a perguntas difíceis decorrentes do mercado ou planejando uma abordagem de execução em detalhes.
O digital está em constante evolução e isso ajuda as organizações a criar uma certa resiliência. Mas todos os ciclos de aprendizado, adaptação e experimentação são necessários para o progresso. Dominar esse ciclo vicioso, com o tempo, proporcionará uma transformação sustentável e ideias inovadoras serão descobertas.
Existe uma concepção errada de que a transformação digital se resume a uma nova tecnologia ou software que resolve radicalmente seus problemas. Por isso, muitas organizações tornaram-se sem rumo e estagnadas, em vez de focar onde elas precisam agir.
De fato, 71% ainda acreditam que a transformação digital exige uma reestruturação completa dos negócios, mas ela é, por natureza contínua, evolutiva e interminável. Essa crença equivocada em um grande plano digital que resolverá todos os problemas de uma só vez representa um grande risco.
Para as organizações que lutam pela transformação digital é fundamental colocar o foco em mudanças comportamentais significativas. Aqueles que estão acertando na transformação tratam o digital como uma maneira eterna de trabalhar, e a enxergam como um estilo de vida. Assim esse conceito se torna fortemente incorporado à cultura.
Cabe ao RH fomentar esse comportamento para que todos compreendam que o mundo digital é um caminho sem volta e entendam seus benefícios, que vem para automatizar, atingir clientes mais distantes, tirar o trabalho repetitivo dos funcionários, melhorar processos, fazer o que realmente importa.
Lembre-se de que ninguém pode ter todas as respostas e não existe um tamanho único para todos os planos. A diferença é a capacidade de uma organização em responder e lidar com as mudanças de maneira holística. Construir esse recurso em toda a organização, incluindo todos os colaboradores, é o verdadeiro desafio, mas também a oportunidade real de obter um sucesso sustentável.
Por Daniela Gärtner – Sr Human Resources Director LATAM da NTT Brasil.