É preciso revalorizar princípios, ideias e práticas, que nos acompanham desde a nossa infância
“Nós temos essa percepção de que o mundo é uma maquinaria concreta, real, material, poderosa, e ficamos mais ou menos esmagados por esses mecanismos cotidianos com que ele se manifesta. Mas é preciso perceber que o mundo é isso, mas também é outra coisa, o mundo é uma história, uma ideia, uma memória.”
Mia Couto, 2014
Hoje, vive-se a sensação de não haver mais caminhos, mais luzes, mais soluções. Denúncias, protestos e desatinos aparecem nos jornais, nas revistas, em programas de televisão. O lado negativo predomina quase sempre, sobre praticamente todas as questões. Sem dúvida, é urgente analisar cada um dos problemas existentes e achar soluções viáveis e adequadas, estabelecendo prioridades e utilizando os recursos disponíveis, de forma correta e sem desperdícios. Mas, também, precisamos voltar nosso olhar para o que é perene, para o que é positivo, para o que faz parte de nossa história e de nossa cultura.
É preciso revalorizar princípios, ideias e práticas, que nos acompanham desde a nossa infância, histórias que escutamos e vivemos, em nossas casas e em nossa comunidade. Não é fazer uma apologia do passado, mas redescobrir o nosso presente.
Ao assistir ao filme Central do Brasil, percebe-se, lá no fundo da alma do brasileiro, o valor que ele dá à profissão. O menino Josué, na obstinada procura pelo pai, falava com orgulho que seu pai fazia telhado, casa, escada, cadeira, mesa, cama. “Meu pai é carpinteiro!”, insistia.
Esse orgulho da profissão é um dos inúmeros recortes possíveis das nossas lembranças, significativas ainda no nosso tempo.
Para formar um verdadeiro profissional, não basta apenas o aprendiz imitar e copiar o que o mestre faz, nem simplesmente seguir regras expostas em manual ou guia prático. Formação profissional é muito mais do que isso.
Uma significativa formação profissional privilegia o aprender a fazer, o aprender a ser; o aprender a agir; o aprender a conviver; o aprender a permanentemente aprender.
Tal formação permite ao aluno ter completo domínio de cada detalhe de seu trabalho, como se olhasse com um microscópio cada parte de seu fazer profissional. E, a partir desse olhar, executar o trabalho com perfeição.
Uma verdadeira formação profissional também permite ao aluno ver, analisar e incorporar tendências, como se o ensino fosse um telescópio voltado para o futuro. A educação, de modo geral, e a formação profissional, em particular, não podem atender apenas às demandas do atual mundo do trabalho. Sua tarefa é mais ampla, mais exigente, na medida em que é preciso antecipar as necessidades futuras do mundo do trabalho, em que os alunos de hoje se integrarão.
Os profissionais formados ganham uma identidade, uma carreira profissional, um atributo que terão orgulho de ostentar durante toda a sua vida. A partir de então, podem mudar radicalmente sua trajetória, conseguir emprego, uma promoção e até mesmo tornarem-se donos de empresas, graças à formação que receberam.
Na escola profissional, os alunos aprendem a viver e a conviver com mais tolerância, realização pessoal e profissional. Com seus instrutores, professores e líderes, aprendem o valor da perfeição, da solidariedade, do ideal do trabalho como fonte de riqueza, dignidade e bem-estar.
Essa experiência pode ser exposta por muitos alunos que frequentaram o Senai, uma entidade que nasceu com brasileiros e que serve de modelo para aplicação em muitos outros países do mundo. É um exemplo de tantas iniciativas exitosas, muitas delas sem o devido reconhecimento.
Somos competentes para encontrar caminhos e trilhar por eles. Somos criativos para encontrarmos soluções inovadoras.
Vamos mesclar passado e presente, virtudes e sabedoria, para vislumbrarmos um futuro que nos faça enfrentar os problemas do dia a dia, juntos. Vamos recuperar a disposição de agir como coletividade. Certamente, solidários, poderemos redescobrir a esperança no amanhã.
Por Walter Vicioni Gonçalves – Diretor Estaduall do SENAI-SP e Superintendente do SESI-SP, Licenciado até 07 de outubro de 2018.