Acredito no impacto social como uma grande alavanca para potencializar o bem-estar dos colaboradores
Observando o cenário mundial atual podemos dizer que vivemos em um estado permanente de crise, incorporada à nossa vida. Uma “normacrise”. Um cenário econômico mundial desafiador, guerras e, ao mesmo tempo, temos o avanço exponencial da Inteligência Artificial. Sabemos que metade das profissões que temos hoje deixará de existir em dois anos. Vamos precisar acelerar o aprendizado de novas habilidades, mas, ainda assim, alguns ficarão fora dessa nova economia. Há uma necessidade de adaptabilidade e de literacidade tecnológica que nem todos estarão preparados.
Por outro lado, há uma preocupação global com o bem-estar. A ONU, com seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), vem buscando diminuir os gaps, trazendo dados e metas, tentando, incansavelmente, junto aos governos e às empresas privadas implementar uma agenda ESG.
Gestores, ferozes e incansáveis, dedicados em mapear se as melhores práticas de ESG estão, de fato, sendo pensadas e colocadas em prática. Do outro lado, uma geração recente que não tolera que sejamos indiferentes. Somos cobrados por isso. Concomitantemente às metas e aos resultados que temos de entregar em nosso dia a dia corporativo.
O nosso modelo atual de produtividade tem deixado as pessoas de uma forma geral, exaustas, hiperconectadas, com perda de criatividade e impacto real na saúde. Estamos diante da SOCIEDADE DO CANSAÇO, que dá nome à obra do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.
Em dois anos, a Geração Z (nascidos entre 1995-2010) será cerca de 27% da força de trabalho global, de acordo com o Fórum Econômico Mundial (WEF), embora outros dados coloquem esse número ainda mais alto. Segundo estudo de bem-estar realizado pela Betterfly – com mais de 4 mil trabalhadores no Brasil e em outros países da América Latina – 60% da geração Z disse estar esgotada, com alto impacto em engajamento, produtividade e bem estar.
Vemos um movimento e uma preocupação das empresas diante deste cenário, novas versões da área de pessoas: áreas de felicidade, jornada do colaborador sendo revisitadas inúmeras vezes, novas formas de pensar o engajamento das pessoas. Trazemos mais flexibilidade? Modelo híbrido ou remoto? Gamificação? Metaverso? O que querem as pessoas para se sentirem mais felizes e mais engajadas com os seus trabalhos? Remuneração ou propósito? Como isso afeta a produtividade, o bem estar delas e a saúde delas?
A área de pessoas também tem buscado adaptação na sua atuação para ajudar os colaboradores a navegar de forma saudável nessa instabilidade. Acredito no impacto social como uma grande alavanca para potencializar o bem-estar dos colaboradores. De acordo com o estudo Helper’s High, do Instituto para o Avanço da Saúde de Nova Iorque, envolvendo 1.700 mulheres voluntárias, cientistas descreveram a experiência de uma “intoxicação solidária”, que era um sentimento de euforia, seguido de um período maior de calma, experimentado por vários dos voluntários depois do ato de ajudar.
Essas sensações resultam da liberação de endorfina e são seguidas por um período maior de melhoria do bem-estar e senso de autovalorização. Esses feelings reduzem o estresse e melhoram a saúde daqueles que ajudam. O conceito de helper’s higher surgiu na década de 1980 e vem sendo confirmado em vários estudos desde então. Na prática, o que posso observar quando realizamos eventos que envolvem colaboradores e ações de impacto social é:
- Maior senso de pertencimento: as pessoas se mobilizam juntas em prol da mesma ação, buscando o objetivo em comum de impactar o mundo;
- Um sentimento de felicidade enorme: hormônios são liberados e trazem uma sensação de euforia que ajuda no clima corporativo e reverbera por muito tempo depois
- Resolução de problemas: as barreiras das dificuldades somem. Todos buscam as soluções em conjunto em prol de um objetivo maior
- Soluções inesperadas: as pessoas ficam mais criativas
Com isso, posso concluir que, como área de pessoas, somos responsáveis por pensar e revisitar as melhores práticas que trazem bem-estar e que fazem com que a jornada do colaborador seja mais prazerosa e com impacto positivo nas pessoas e na sociedade. Incentivar que o colaborador seja o protagonista e agente de mudança de forma individual e em grupo, alinhados a uma agenda ESG, certamente nos trará uma jornada do colaborador de maior impacto.
Virginia Vairo é psicóloga e head de People & Culture na Betterfly Brasil. Possui mais de 15 anos na liderança de times multiculturais.