Disponibilizar publicamente as informações sobre o desempenho diferencial dos prestadores de saúde é uma maneira para que os gestores de saúde – e outros interessados – consigam influenciar na contratação pela qualidade do atendimento
Por Mara Machado, CEO do Instituto Qualisa de Gestão (IQG)
A comunidade de gestores de saúde corporativa sabe pouco sobre a qualidade dos serviços de saúde que compram e, talvez, menos ainda sobre o poder que possui para melhorar a qualidade da assistência prestada aos colaboradores de suas empresas. Mas isso está lentamente começando a mudar e, consequentemente, chamando a atenção dos líderes do setor de saúde suplementar.
Em 2000, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os países deixassem de fazer contratações passivas no setor e começassem a enxergar esse processo de forma mais estratégica. Agindo passivamente, estão apenas seguindo um orçamento pré-determinado ou simplesmente pagando as contas quando apresentadas. Em contraste, a forma estratégica envolve uma busca contínua pelas melhores formas de maximizar o desempenho do sistema de saúde.
O mesmo vale para os gestores corporativos. A melhoria no serviço prestado não pode mais ficar restrita à garantia do acesso ou ao aumento da utilização, sem que o “desempenho adequado das intervenções” entre na conta.
A contratação baseada na qualidade está em sua infância no Brasil. De acordo com os especialistas em sistemas de saúde, o uso desse conceito para melhorar a prestação de serviços está longe da agenda dos formuladores de políticas do setor em muitos países. O papel dos gestores de saúde corporativa limita-se largamente ao de intermediário do valor financeiro, quando poderia ter um papel absolutamente estratégico.
Qual valor esse conjunto de serviços irá agregar a minha equipe? Como esses serviços gerenciam sua qualidade e segurança? Quais programas de prevenção ele irá me oferecer? Esse fluxo difere das outras aquisições – de insumos ou materiais – feitos pelas companhias e precisa de mais atenção, no momento em que discussões sobre ESG, marca empregadora e bem-estar das equipes estão em voga.
A falta de informações comparativas sobre o desempenho do prestador de saúde contribui para uma crença persistente de que a qualidade não é um problema sério e é relativamente uniforme entre todos. Novamente, torna-se imprescindível o papel estratégico do gestor de saúde corporativo, uma vez que as despesas com esse serviço ocupam a segunda posição no raking geral de uma empresa.
Disponibilizar publicamente as informações sobre o desempenho diferencial dos prestadores de saúde é uma maneira para que os gestores de saúde – e outros interessados – consigam influenciar na contratação pela qualidade do atendimento.
À medida que governos, empregadores, planos de saúde e outros players consideram ou reconsideram suas agendas de qualidade, precisamos incentivar o debate da contratação seletiva e estratégica. É necessário incluir o pagamento baseado em desempenho e a publicação dos indicadores no contexto de uma estrutura nacional, juntamente com métodos mais tradicionais, programas de melhoria contínua e acreditação.
Muitas instituições buscam programa de acreditação do sistema da qualidade na tentativa de diferenciação, mas também não conseguem “apresentar” seus diferenciais, seja para quem os contrata ou para quem verdadeiramente paga a conta.
Além do alerta para os gestores de saúde corporativa, vale o alerta para todos os demais colaboradores que utilizam o sistema de saúde oferecido: você sabe como é o processo de contratação desse serviço pela sua empresa?