Cada vez mais ferramentas usam IA para ajudar em demandas cotidianas, melhorar a tomada de decisões, aprimorar as experiências de candidatos e funcionários
Raul Salles de Padua – professor de Deep Learning & Generative AI na Faculdade Sirius
Os profissionais do setor de Recursos Humanos lidam com dados o tempo inteiro. Cada informação sobre candidatos, colaboradores, salários, benefícios, atrasos, desempenho — tudo pode ser explorado de maneira ágil e segura com o uso da tecnologia certa. E, ao contrário do que pode parecer, isso não significa que os processos do RH serão frios e afastados do fator humano.
Pelo contrário: com as análises automatizadas, os profissionais têm como se dedicar mais ao convívio com as pessoas e têm tempo para lidar com questões mais complexas ou estratégicas.
A inteligência artificial tem se mostrado uma grande aliada nesse sentido. Cada vez mais ferramentas usam IA para ajudar em demandas cotidianas, melhorar a tomada de decisões, aprimorar as experiências de candidatos e funcionários, e melhorar a gestão de riscos e conformidade com regulamentações trabalhistas. O resultado é um departamento mais eficiente em todos os âmbitos.
Veja algumas maneiras em que a IA pode mudar o que conhecemos dentro do RH:
Recrutamento e Seleção
Muitos são avanços na otimização do recrutamento, especialmente com os modelos de IA em “estado da arte” para as tarefas relacionadas a este fim, chamados de Large Language Models, ou LLMs que conseguem processar com muita eficácia uma enorme quantidade de dados. Portanto, ela consegue analisar milhares de currículos para identificar os candidatos que atendem aos requisitos da uma vaga, através do uso de técnicas de NLP (Linguagem de Processamento Natural) para entender o contexto e as nuances das informações fornecidas.
A Gupy, uma das maiores plataformas de seleção de talentos do Brasil e utilizada por inúmeras empresas de renome, é provavelmente o exemplo mais popular desse tipo de solução.
Desenvolvimento e Treinamento
A IA pode personalizar programas de treinamento e capacitação com base nas necessidades e habilidades individuais dos funcionários, bem como nas exigências do cargo. Isso é possível através da análise de dados de desempenho e feedbacks, que criam um caminho de aprendizado adaptativo mais eficiente e engajador.
Além disso, ferramentas de IA generativa auxiliam a personalizar apresentações e conteúdos para aproximar ainda mais o colaborador do assunto. Alguns exemplos são o Dall-E ou o Designer, do Bing, para gerar imagens, o novo Sora, que já gera vídeos com qualidade impressionante, ou o próprio ChatGPT para textos. Há ainda o Tome.app, uma das opções do mercado que cria apresentações do zero.
People Analytics
A IA, especialmente através de técnicas avançadas de Machine Learning, pode transformar grandes volumes de dados em insights acionáveis sobre a força de trabalho. Isso inclui desde a previsão de necessidades de contratação até a análise de eficácia de políticas de RH.
Inboarding é uma startup brasileira que trabalha com essas análises e permite que a gestão tome decisões assertivas, inclusive no que diz respeito ao clima organizacional, diversidade e inclusão, entre outros.
Geração de documentos e relatórios
Muito tempo é gasto por profissionais de RH na criação de documentos como rascunhos de contratos de trabalho, políticas de empresa e relatórios de desempenho. Com uma IA que auxilia nesses processos, é possível economizar tempo e garantir consistência.
Zoho é uma ferramenta que, entre diversas outras soluções para RH — inclusive as demais oportunidades listadas aqui — também facilita a estruturação de dados para relatórios.
Análise de sentimento e feedback dos Funcionários
A IA pode analisar pesquisas de satisfação de funcionários, avaliações de desempenho e outros feedbacks com o uso de NLP para identificar tendências, problemas e pontos de melhoria. Isso ajuda os RHs a serem proativos na resolução de problemas e na melhoria do ambiente de trabalho.
Um caso interessante nesse contexto é o do Ideq 21, que atua com pesquisas há mais de 30 anos, e passou a preparar suas bases de dados para que ferramentas de inteligência artificial interpretassem da melhor maneira. Assim, IAs de geração de relatórios e planilhas conseguem ler as informações corretamente e fornecer os insights ideais.
Existe ainda muito potencial para essas tecnologias na área de Recursos Humanos. Acredito que o futuro promete bastante progresso. Só para citar algumas possibilidades:
Personalização na Gestão de Talentos: a IA permitirá um nível de personalização sem precedentes na gestão de talentos, desde o recrutamento até o desenvolvimento de carreira, oferecendo trajetórias personalizadas baseadas em dados para otimizar o crescimento individual dos funcionários.
- Recrutamento produtivo: antecipação das necessidades de contratação, identificação de candidatos potenciais antes mesmo de vaga estar efetivamente aberta, e previsão do sucesso do candidato no papel — algo que até mesmo o LinkedIn já começou a propor
- Desenvolvimento de liderança: identificação de potencial profissional e treinamento personalizado, a exemplo de simulações AI-powered e programas que adaptam o conteúdo às necessidades e estilos de aprendizagem dos indivíduos
- Integração de IA e Machine Learning em People Analytics: insights mais profundos sobre o comportamento dos funcionários, produtividade e bem-estar
Por fim, um ponto importante a ser ressaltado é que os profissionais de RH devem começar o quanto antes a estudar e se adaptar a esse tipo de ferramenta. Muitas mudanças já ocorreram e tantas outras ainda devem acontecer. Recomendo uma postura de aprendizado contínuo, interesse pelo funcionamento básico da IA e abertura para uma verdadeira colaboração entre pessoas e máquinas.
Esse é o futuro breve. Só não esqueça que, como sempre é o caso no RH, o fator humano é fundamental. A tecnologia não vai substituir as interações sociais, e sim aprimorá-las. Aproveite as funcionalidades para melhorar ainda mais sua conexão com a equipe e tanto você quanto sua empresa serão lembradas tanto como ágeis quanto receptivos.
