Falar verdades nunca foi fácil. Mas hoje, parece quase um ato subversivo. Em ambientes profissionais onde tudo precisa ser “leve”, “agradável” e “acolhedor”, dizer o que realmente precisa ser dito passou a ser confundido com grosseria. O problema é que quando a verdade se torna indesejada, a mentira vira protocolo.
A verdade não precisa ser cruel. Mas precisa ser dita. E isso exige maturidade — de quem fala e, principalmente, de quem ouve. A cultura organizacional contemporânea está cheia de discursos sobre “feedback sincero”, “transparência” e “ambientes de confiança”. No entanto, na prática, o que se vê com frequência é um ambiente emocionalmente infantilizado, onde qualquer divergência é vista como ataque, e qualquer desconforto, como violência.
O resultado é um teatro corporativo: todos dizem o que os outros querem ouvir, ninguém arrisca pensar diferente, e o ambiente se enche de verdades não-ditas que sabotam relações, projetos e resultados. A verdade é empurrada para debaixo do tapete, até que a convivência se torne insuportável — e, ironicamente, tudo desmorone por aquilo que se tentou evitar: o conflito.
A verdade não tem compromisso com o nosso “ego“. Ela serve à lucidez, não ao conforto. Negar a realidade por conveniência emocional é uma forma silenciosa de autoengano coletivo. E o preço disso é alto: decisões ruins, relações frágeis, lideranças manipuláveis e uma cultura onde a conveniência vale mais do que a coerência.
É claro que nem toda verdade precisa ser lançada como uma pedra. Existe forma, existe contexto, existe respeito. Mas “censurar” a verdade por medo de ferir é o mesmo que abandonar a responsabilidade de amadurecer. A verdade, dita com firmeza e humanidade, constrói. A mentira cordial, por mais educada que seja, corrói — silenciosamente, dia após dia.
O problema não é a verdade. O problema é a fragilidade que a verdade expõe. E talvez seja hora de parar de tratar isso como ofensa, e começar a encarar como oportunidade de crescimento. Não existe liberdade real onde a verdade é proibida.