Sou duplamente engenheira. Graduada em Engenharia de Alimentos, percebi que as disciplinas ensinadas no curso de Engenharia Ambiental complementariam meus conhecimentos para atuar no segmento que escolhi para trabalhar, que é o de eficiência energética. Ajudar as empresas a reduzirem o consumo de energia e, ainda, a usá-lo de maneira mais inteligente é o foco da minha profissão e demandou essa base acadêmica. Dentro dessa profissão, percebi que há menos mulheres que homens, mas a boa notícia é que, de 15 anos para cá, quando iniciei na minha primeira experiência na área, o cenário mudou muito, para melhor, em favor das profissionais que atuam na área.
Quando estava no meu primeiro emprego, passei por um episódio que considero lamentável. Na ocasião, um grupo de clientes homens, estrangeiros, vindos de um país asiático, exigiu que eu me retirasse de uma reunião pelo fato de ser mulher. Simplesmente não queriam tratar de negócios com uma mulher! Contei com o apoio do meu gestor e colegas de trabalho, que insistiram para que eu ficasse e deixaram bem claro que eu iria, sim, fazer parte do projeto, independentemente do desejo deles de me excluírem. Embora tenha sido uma situação muito triste, felizmente, nunca mais se repetiu em minha vida. Depois disso, tenho a satisfação de trabalhar com colegas, clientes, fornecedores e gestores que sempre me valorizaram e me escutaram pela profissional que sou.
No setor de eficiência energética, que é a realidade mais próxima a mim, vislumbro o crescimento no número de mulheres nas empresas e uma mudança positiva de comportamento. Ainda somos minoria, é verdade. O relatório ‘Energia Renovável: Uma Perspectiva de Gênero’, promovido pela IRENA (Agência Internacional de Energia Renovável, em português), em janeiro de 2019, apontou que apenas 32% da força de trabalho de energia renovável eram representados por mulheres e 75% delas percebem barreiras de gênero no setor. Mesmo assim, sou otimista! Acredito que há condições de trabalho e oportunidades para profissionais que buscam espaço nesse mercado, independentemente do gênero.
Quando ressalto a presença da mulher no ambiente laboral das companhias de energia, refiro-me à necessidade de enxergar o nosso potencial por traz da profissional que, por vezes, é mãe e passa por todo o processo que a maternidade exige, por exemplo. Engravidei logo no início da minha trajetória dentro da empresa onde atuo há mais de quatro anos. Fui respeitada, ouvida e bem tratada ao longo da gestação e, quando voltei da licença maternidade, continuei o meu trabalho e acabei recebendo uma promoção, o que demonstra a valorização do meu trabalho, independentemente do meu gênero.
Atualmente, sou gerente e coordeno o trabalho de cinco profissionais do sexo masculino, onde consigo executar o meu trabalho com total liberdade e reconhecimento deles. Por isso, gosto de ter esse olhar positivo diante do futuro e de acreditar que estamos caminhando para um equilíbrio, não somente dentro do segmento de energia, mas também na sociedade. E quando digo “equilíbrio”, enxergo que o mercado de trabalho, em breve, irá se pautar no desempenho entregue pelo profissional, por meio do qual todos devem ter o seu lugar e seu reconhecimento, independentemente do gênero, condição social ou qualquer adversidade.
Beatriz Moreira de Araújo é gerente de eficiência energética na área de aplicação da GreenYellow
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