A experiência adquirida durante a tempestade é um cartão de embarque para alçar voos muito altos tudo acalmar
Em épocas de crise, o que mais ouvimos nas empresas são as palavras Superação e Resiliência. O melhor exemplo que podemos buscar é o dos sobreviventes do Holocausto.
Sim! Essas pessoas realmente superaram dificuldades. Eles suportaram os piores castigos, sobreviveram a morte diária, superaram os maiores obstáculos e o mais incrível, venceram para refazer suas vidas. Seus exemplos e ensinamentos são lições valiosas para o nosso dia a dia.
O senhor Samuel Klein ficou conhecido no Brasil todo como o dono da Casas Bahia, um império do varejo que faturava bilhões de dólares. O que pouca gente sabe é que ele foi sobrevivente de dois campos de trabalhos forçados e extermínio, ambos na Polônia.
Ele conta que ao chegar com centenas de outros prisioneiros ao campo de Maydanek, com apenas 16 anos de idade, os alemães perguntaram se alguém era cozinheiro. Samuel imediatamente levantou a mão e se ofereceu.
Na verdade ele era carpinteiro, trabalhava com o seu pai, nunca tinha feito nada na cozinha – ele me contou sua história com um forte sotaque polonês –Mas naquela hora não pensou duas vezes. Sabia que na cozinha ia trabalharia num ambiente quente, faria um serviço leve e poderia desviar um pouco de comida para ele o seu pai, que tinha sido preso. Curioso, o questionei sobre a falta de dotes culinários. Ele riu e respondeu:
– Você acha que eu ia cozinhar o quê? Sabia que meu trabalho seria apenas fazer sopa com cascas de batatas, que era nossa ração diária! Precisa ser cozinheiro para fazer isso?
O que aprendemos com ele? Que para sobreviver é preciso ter coragem, inteligência e senso de oportunidade. Para sobreviver em épocas de crise é preciso pensar e agir rapidamente. Não dá tempo de piscar nem ter medo.
Os sobreviventes do Holocausto mostram isso com muita clareza.
Outra lição podemos aprender com o senhor Julio Gartner, que sobreviveu a cinco campos de concentração.
Quando perguntam a ele no que pensava quando estava preso, ele responde com muita objetividade.
Sobreviver. Só pensava em sobreviver mais um dia, em comer hoje para estar vivo amanhã. Isso tem um nome: foco. Ele tinha foco. Não perdia tempo nem energia pensando na maldade dos nazistas, na injustiça de estar preso ou em como sua vida seria diferente se não fosse a guerra.
O senhor Julio mantinha o foco na sobrevivência e tudo o que ele fazia era com esse objetivo. Nada mais importava. Sobreviveu.
Quantas vezes numa situação de crise são feitas várias reuniões para traçar estratégias, analisar as alternativas, simular projeções, estudar o que acontece em volta, e enquanto isso a crise corre solta engolindo tudo o que vem pela frente? Perdemos o foco no principal, gastamos tempo, dinheiro e energia em vãs filosofias. Deixe para filosofar quando a situação estiver sob controle, tranquila, no happy hour com os colegas.
Outra lição a aprender com os sobreviventes do Holocausto é que não temos ideia do que o ser humano é capaz de aguentar. Nossa resiliência vai além do que imaginamos.
Por isso, use essa força extra nas situações de crise. Lute muito mais, não desista, mantenha o moral elevado e o otimismo lá em cima. Tenha sempre a certeza de que você vai conquistar seu objetivo. E pode crer que temos força para isso.
E por fim, saiba que a experiência adquirida durante a tempestade é um cartão de embarque para alçar voos muito altos tudo acalmar.
Ou você acha que depois do que o senhor Samuel Klein passou, ele tinha dificuldades em vender a prazo para dona Maria sem falar uma palavra em português? Da próxima vez que você achar que a crise está brava, achar que tem problemas, lembre-se dos sobreviventes do Holocausto.
Marcio Pitliuk é palestrante, cineasta e escritor. É profundo conhecedor da II Guerra Mundial e um dos maiores especialistas brasileiros sobre o Holocausto, temas onde busca inspiração para desenvolver suas palestras. www.marciopitliuk.com.br [email protected]