Se você já viu os três conceitos, mas se esqueceu das definições, esse artigo é para você
Há muito tempo uso os conceitos de eficiência e eficácia em treinamentos na Companhia de Idiomas, empresa da qual sou sócia-diretora. Mas devo confessar que eu sentia que faltava alguma coisa, um terceiro elemento… Foi aí que encontrei a lacuna, que alguns especialistas no tema nomearam como efetividade.
Se você já viu os três conceitos, mas se esqueceu das definições, esse artigo é para você. Se conhece bem os três, vale refletir sobre a aplicação deles nas organizações e na nossa vida pessoal. Mas primeiro vamos rever os conceitos, de forma bem resumida:
Você é eficiente quando realiza todas as tarefas designadas a você, respeita o processo, entrega tudo no prazo, é pontual e assíduo aos compromissos, faz tudo certinho. Um gestor aqui pode pensar: “nossa, já parece tão bom, meu desafio ainda é conseguir que meu time seja isso aí…” Ou “estou aqui tentando cumprir os prazos, não está fácil ser eficiente…”
Ser eficiente é um desafio para alguns, e muito simples para outros. E eficaz?
Você é eficaz quando atinge os resultados esperados, ou os supera – seguindo ou transgredindo um pouco o processo (em nome do resultado). Se você é um gestor de uma franquia, transgredir o processo não é boa coisa, pois franquia pressupõe padronização de produtos e processos. Se trabalha para uma grande empresa que tem processos rígidos, idem. Mas você pode trabalhar para uma empresa que busca inovação constante e disruptiva, que almeja a vantagem competitiva de ser capaz de vender um produto/serviço que o consumidor queria, mas não sabia que queria, e quando sua empresa apresenta a ele, ele paga mais para obter. Se sua empresa precisa de gente criativa, é melhor não ter apego ao processo, à manualização de tarefas ou a sistemas operacionais inflexíveis. Chega uma startup da geração Z e… engole sua empresa tradicional, organizada e eficiente, com a nova empresa dele: criativa, enxuta e eficaz, com baixos custos operacionais, preço super competitivo, e com produtos que nos dão aquele gostinho amargo e o pensamento: “como a gente não foi capaz de pensar nisso, tãão simples???”
Como não fomos capazes? Eu explico.
Nos apaixonando pelas tarefinhas do dia a dia, nos sentindo mega importantes por estarmos ocupados das 8h às 22h (sim, tem os eventos para networking) e nos esquecendo de nos perguntar (e perguntar aos funcionários) o que temos a oferecer de relevante para o consumidor, que o concorrente não tem. Enquanto nos relacionarmos com nosso clubinho de iguais, não percebemos o mercado.
O empreendedor-geração Z-da startup (que hoje derruba a empresa sólida com um assopro) não observa os novos comportamentos do consumidor, o novo mercado. Ele é o mercado, ele tem estes comportamentos. E ele sente falta de um produto ou serviço, pensa em como criá-lo para preencher esta lacuna, elabora um Business Plan, se junta a pessoas igualmente criativas e talentosas e… puft! Cria uma empresa bacana e lucrativa. Ok. Não é assim tão fácil. Mas é fato que vemos segmentos inteiros sendo abalados por ideias e empresas criativas. Taxistas substituídos por Uber. Hotelaria por AirBnb. Bancos por Fintechs. Locadoras por TV a cabo (notícia velha). TV a cabo por serviços de streaming. E por aí vai. Isso sem citar as pequenas inovações que ainda não estão na mídia, mas que já corroem lentamente as empresas que não inovam. E não adianta dizer que os segmentos substituídos eram muito ruins. Eles eram eficientes: cumpriam o prometido. E a gente usava, pagava, gostava, não gostava, ou seja, vida normal. Não fossem os eficazes, os criativos, nós estaríamos ainda indo à locadora, e pegando o táxi. Não sabíamos que queríamos isso que temos hoje.
Então, tirar uma hora da agenda insana/eficiente é fundamental para conseguirmos PENSAR quais metas são de fato relevantes, quais são as reais dores do cliente (não falando do case da semana passada, mas mapeando os 100 casos que você atendeu no mês).
É realizar um monte de coisas. Mas, logo depois, se afastar, olhar para o todo, concluir algo, ajustar aqui e ali, com pequenas mudanças diárias e graduais. Ou, depois de concluir algo, ter a coragem de quebrar tudo e fazer mudanças de ruptura. Isso nos torna eficazes.
Se eficiente parecia bom, eficaz parece ótimo.
E se você leu até aqui, já percebeu que nem sempre eficiente é suficiente – para você ou para sua empresa. Mas o pior está por vir: ser eficaz, sem ser efetivo, é o que considero a maior armadilha.
O que é “ser efetivo”? Você é efetivo quando consegue ser eficaz (atingir ou superar os resultados esperados), sem pagar um preço alto demais por isso.
O que é “alto demais” só você vai saber. É quando você diz: “Consegui. Mas não valeu a pena.”
Depois de ter nascido e vivido por quase 50 anos na cidade de São Paulo, há pouco mais de um ano, eu e meu marido nos mudamos para Canela, aquela cidadezinha linda ao lado de Gramado, no Rio Grande do Sul. A filha está aproveitando oportunidades profissionais do outro lado do mundo. Percebo que Canela está cheia de pessoas que foram eficientes e eficazes nas grandes cidades, mas começaram a não mais sentir prazer nas conquistas. Começaram a, incrivelmente, não gostar do status, do prestígio, dos eventos, da amizade aprendida no curso de técnicas de networking, do dinheiro investido para aparentar e se sentir lindo, importante, relevante.
Vamos dar uma paradinha aqui para lembrar que tem muita gente feliz na cidade grande, gente que vê seu propósito exatamente neste estilo de vida. E se estão felizes, está tudo certo.
Mas nesta cidadezinha aqui tem gente que nunca foi atrás deste estilo de vida. Gente que nasceu e permaneceu simples (só depois de muito tempo descubro o número de fazendas dessa gente que senta sem pressa e toma um chima com amigos). E tem gente que se cansou da outra vida, gente que está pagando o alto preço. Conquistou algumas coisas, mas…. comprometeu sua saúde física e mental, deteriorou algumas relações pessoais que importavam, subverteu seus valores, esqueceu do seu propósito. O antídoto foi parar tudo e tentar ver o mundo através de outros olhos, QUERER se sentir desconfortável por não conhecer ninguém naquele lugar diferente, ver outras paisagens (não para postar fotos), com outras perspectivas, conversar com gente que tem um outro sotaque (e um outro jeito de ver/viver a vida). Tudo isso pode curar, se houver esta intenção.
Acho mais fácil ser efetivo – ou saber escolher qual preço se quer pagar por qual conquista – quando se muda de vida, como eu e tanta gente fizemos. Mais desafiador é se manter na mesma vida, mesmo ambiente e com as mesmas pessoas – e conseguir se distanciar do dia a dia, olhando de forma crítica, mas afetuosa, para o que se quer ter e ser. Ali, no meio da rotina, entender qual é a sua obra.
Em ambos os casos, saindo ou ficando, temos de compreender finalmente que levamos anos aprendendo a consumir para viver. E agora, temos que urgentemente reaprender a viver para não ser consumido. Efetividade.
Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas.