A pergunta “Você é um chefe ou um líder” te parece um pouco redundante? Se você respondeu que sim, é hora de rever seus conceitos.
Quando eu imaginava um “chefe”, me vinha em mente a figura do meu pai quando eu era mais nova. Eu costumava visitar seu escritório. Ele usava um paletó bem sóbrio, carregava uma maleta, e sua expressão era sempre muito séria. Apertava uma tecla no telefone de mesa e chamava sua secretária, espalhava tarefas aos seus funcionários. Ninguém tinha muitas perguntas. “Just do it” (“só faça”).
Esse cenário era o que, na época, se considerava “chegar ao topo” do mundo corporativo como executivo.
Muitos anos se passaram, a tecnologia, a revolução da informação e os mercados em ritmo acelerado reinventaram completamente o papel do gestor nesse mundo novo; foi quando o chefe deu lugar ao líder. Entre meus clientes corporativos, nunca vi tantos escopos de posições com “habilidades de liderança” como competência prioritária na busca de executivos. “Identificar e desenvolver líderes” se tornou uma das principais prioridades nas agendas de todos os CEOs e do RH, em diversas pesquisas no mundo todo.
Quer saber então quais são as diferenças mais críticas entre um chefe e um líder? Aqui estão:
- Um chefe gerencia; um líder inspira.
Nas organizações de hoje, as pessoas não gostam de ouvir o que fazer; elas precisam ser parte de qualquer processo de decisão, e acreditarão em suas direções, mas construirão seu próprio caminho para chegar lá.
- Orientar em vez de dirigir
Na pressão do dia a dia, a solução mais fácil é dizer o que fazer- o que não desenvolve nenhum colaborador nem gera saídas criativas. Um bom líder sempre tentará atuar como um “coach”.
Isso significa ser capaz de:
– Esquecer a atitude do tipo: “Eu sei tudo”
“Ego” e “orgulho” aqui precisam ser colocados no bolso. Na era da tecnologia, ninguém detém mais o poder pelas informações, e um bom líder sabe que qualquer pessoa no grupo, independentemente da hierarquia, terá algo para contribuir com seus insights.
– Ouvir mais do que falar
Como em um processo de coaching, ouvir é vital. Tente se comprometer com uma regra simples de ouvir cerca de 80% do tempo e falar 20%; deixe os funcionários se expressarem da maneira mais genuína. Leva mais tempo; no entanto, é muito mais frutífero envolver as pessoas na solução do que dizer a elas a “maneira certa” de superar os problemas.
– Fazer mais perguntas do que dar respostas
Ao falar, não busque atalhos; faça perguntas mais abertas, explorando o que eles fariam em sua posição, ou eliminando barreiras para encontrar uma solução, como, “Se você não estivesse preocupado com X ou Y, o que você faria nesse caso?”
- Assumir responsabilidade versus culpar
Assim como temíamos a autoridade dos nosso país no passado, o mesmo pode acontecer no mundo corporativo: o medo de cometer erros e de ser repreendido nos faz evitar o risco. Para se ajustar aos mercados atuais, o líder precisa incentivar essa habilidade e assumir responsabilidades se algo der errado. Os erros aqui são passos necessários para alcançar o sucesso.
Em resumo, a imagem antiquada do chefe mudou completamente. Hoje, vemos organizações diminuindo barreiras hierárquicas e ambientes de trabalho mais integrados e que propiciam a co-criação para gerar inovação por meio da colaboração, ao invés dos monólogos ou dos “medos de interromper”.
Este novo mundo do trabalho significa, na prática, um novo cenário, muito mais motivador. Provavelmente, qualquer pessoa que entre no escritório de uma empresa assim, não conseguirá num primeiro momento apontar quem é o gestor, mesmo que ele esteja lá, interagindo no meio dos demais colaboradores- e esse é o momento em que o chefe se tornou um verdadeiro líder.
E o meu pai, que descrevi lá no comecinho do artigo… aaah, como ele poderia ter agregado mais nessa cultura nova. O perfil de liderança ficou lá guardado por conta de uma cultura corporativa antiga, impedindo o Sr. Edison de irradiar todo o seu potencial em desenvolver novos talentos e inovação. Mas isso não vai acontecer com você, se agir rapidinho.
Por Erica Castelo, Headhunter Internacional e CEO da The Soul Factor