Inovação e liderança: Cultivando sonhadores e agentes de mudança nas organizações
Colunista Mundo RH, Elisabeth Rodrigues, executiva de Recursos Humanos
“Porque eles mudam coisas, eles impulsionam a raça humana para a frente”. Esta é a frase central da campanha da Apple “Think Different”, que, para mim, diz muito sobre esse perfil sonhador tão necessário nas organizações que precisam gerar valor a longo prazo. Deixando de lado o romantismo da palavra, denomino sonhador o visionário, o agente de mudança, o curioso, o inconformado. Muitas habilidades se encaixam nesse conceito.
Chamo de sonhador aquele que “pensa grande” e deseja construir a próxima vantagem competitiva de sua empresa, explorando possibilidades e que não sucumbe diante dos obstáculos porque possui um propósito maior.
Chamo de sonhador aquele que está conectado às tendências e consegue ver o mundo através de sua cadeia de stakeholders.
Como Executiva de Recursos Humanos, tenho refletido cada vez mais sobre isso. Como tem sido meu posicionamento diante das diferentes necessidades organizacionais? Como tenho ajudado as organizações a serem mais responsivas diante de tantas mudanças? Quais habilidades precisamos desenvolver hoje e amanhã? Estamos incentivando ou suprimindo esse perfil em nossas empresas?
Como mãe, também me pergunto como ensinar meu filho a sonhar com esse mundo melhor que, muitas vezes, ainda não sabemos descrever.
Estou intrigada por um estudo recente da PwC, denominado “Prosperando na Era da Reinvenção Contínua”, que preconiza que cada líder deve desafiar o senso comum para a criação de valor. O artigo menciona que, dada a magnitude das transformações iminentes, são necessárias abordagens mais ousadas em nossas organizações. Como já observamos, estamos falando de mudanças climáticas e demográficas significativas, bem como da adoção de novas tecnologias que impactam o mundo dos negócios. Precisamos desafiar o senso comum.
Outro estudo, publicado pela Gartner no início do ano, mostra altos índices de “fadiga de mudança” no universo corporativo. Além de melhores processos de gestão de mudança, acredito que perfis mais responsivos navegarão melhor neste cenário. Precisamos de mais agentes de mudança. E, falando em gestão de mudança, deixo aos líderes o convite para alinhar as prioridades de mudança entre todos os envolvidos e, principalmente, fomentar uma cultura de confiança, permitindo que todos possam expressar suas ideias e medos. Tenho lido e observado o quanto “organizações sem medo” criam equipes mais ágeis e colaborativas.
Voltando ao tema inicial, talvez outra boa tradução para sonhador seja “inquieto”. Também chamo de sonhador aquele que critica, faz perguntas e cria alternativas ou possibilidades. Chamo de sonhador quem tem “elasticidade cognitiva”.
Lembrei-me aqui do último relatório do Fórum Econômico Mundial (The Future of Jobs) que aponta criatividade, resiliência, flexibilidade, automotivação, curiosidade e aprendizado contínuo como as principais habilidades requeridas no último ano. Para mim, estão muito conectadas com o perfil “dreamer” mencionado acima. Quem sabe aonde quer chegar e o tem no coração, não se paralisa diante dos primeiros obstáculos.
Vale comentar que alguns sonhadores são criticados pela “falta de conclusão” e disciplina de execução. Não discordo totalmente. Nesse caso, é importante cercar-se de perfis complementares e, principalmente, praticar o autoconhecimento.
Sonhos mobilizam. Sonhos inspiram. Quem não se lembra do famoso “I have a dream” de Martin L. King ou do “Yes, we can” de Barack Obama? Discursos que até hoje são estudados pelo seu alto impacto de conexão e mobilização.
Sonhadores estão conectados com o futuro, mas também com a melhoria de caixa, de receita, de capacidade operacional e de condições de trabalho. Eles estão preocupados com a melhoria contínua e com o “próximo passo”. Sonhadores são disciplinados porque conhecem o preço e o tamanho do seu sonho.
Sonhadores às vezes incomodam porque são inquietos, seus planos nem sempre são claros e podem parecer “românticos” demais para um ambiente corporativo. Quem já não ouviu o termo “viajandão”? Talvez seja mais fácil administrar seguidores, pois são previsíveis, fazem menos barulho e procuram menos “atalhos”. Parece mais simples ter gente assim por perto. Mas será que tem o mesmo impacto? Adoro pessoas que têm a coragem de dizer “não sei”, mas que, no final da frase, sempre têm um “eu vou buscar”, “eu vou resolver”, “eu vou aprender”.
Empreendedores sonham. E, quão comum é ouvir a liderança dizer que precisa de mais empreendedores em seus times? Ainda não vejo essa realidade tão presente.
Bom, volto a falar de um ambiente corporativo de mudança acelerada, de desafios competitivos e altamente impactado pelo ambiente externo. Falo aqui de muitas gerações que começaram a trabalhar juntas e que, além de suas necessidades financeiras, também são movidas por sentido e significado. Precisamos ir além do óbvio. Vamos precisar cada vez mais de pessoas que façam a diferença e que tenham condições de exercer seu melhor potencial. Vamos por mais “sonhadores”. Sim, “I have a dream”.