Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de vivenciar pressões de diferentes tipos e em diversas situações. Digo “oportunidade” porque as pressões que chamo de ordenadas me fizeram crescer e aprender a me comportar diante dos desafios. Por outro lado, as pressões desordenadas me ensinaram como um líder não deve agir em momentos de crise e quais impactos esse tipo de postura pode causar em uma equipe, seja ela comercial ou não.
Agora imagine um jacaré à beira do rio. Ele não se desespera diante da movimentação ao redor. Ele permanece submerso, atento, com os olhos acima da linha d’água. Observa, espera, economiza energia. Quando age, é com precisão um movimento certeiro, firme, eficiente. Agora, troque o jacaré pelo líder e o rio por um cenário de crise. O que acontece quando a pressão chega?
Um líder preparado sabe se afastar do problema para enxergá-lo com mais clareza. Ele reconhece que não tem todas as respostas, mas, em vez de tentar resolver tudo sozinho, convida o time a refletir. Ele provoca com perguntas, compartilha ideias, abre espaço para o time respirar e reorganizar. E, quando volta, volta junto para construir, não para cobrar.
Mas nem sempre é isso que acontece. Em muitos casos, vemos líderes pressionando de forma desordenada. Na minha visão, isso costuma acontecer por dois motivos principais: falta de preparo e comportamento reativo. Às vezes, o líder simplesmente não sabe como lidar com a pressão, então age no impulso ou tenta impor uma solução que, no fundo, só ele acredita. Outras vezes, ele entra num ciclo de reforço negativo, repetindo o problema várias vezes, destacando os impactos de forma exagerada, ignorando as dificuldades do time e adotando um discurso cada vez mais pessimista.
É como gritar “fogo!” o tempo todo sem mostrar onde está a saída. O resultado é a paralisação. O cérebro humano, diante da ameaça, foca na sobrevivência. Isso é natural. E quando tudo que o time escuta são mensagens negativas, ele entra em modo de defesa, medo e bloqueio. Criatividade, foco e autonomia desaparecem.
A diferença entre a pressão que mobiliza e a que sufoca está no cuidado com o como. Pressão ordenada é aquela que oferece direção e segurança. Pressão desordenada apenas amplia o pânico e reforça os erros do passado.
Esse tipo de liderança mais consciente que se afasta do calor do problema não por omissão, mas por estratégia é o modelo que precisamos cultivar. Um líder inspirador sabe quando entrar, quando sair, quando provocar e quando dar espaço. E, se tiver que exercer pressão, que seja com clareza, com propósito e com respeito à capacidade emocional da equipe.
Ao longo da carreira, é natural que excelentes profissionais descubram que ainda não dominam essa habilidade. E isso não é uma falha e sim uma chance real de desenvolvimento. Há muitas formas de construir esse tipo de liderança: com autoconhecimento, com escuta ativa, com feedback sincero e com a humildade de aprender com quem já passou por esse caminho.
Liderar em momentos difíceis não é correr mais, cobrar mais, falar mais alto. É agir com inteligência. E inteligência, nesse caso, tem muito mais a ver com sensibilidade do que com velocidade. Assim como o jacaré, que permanece calmo, submerso, atento e só age quando é realmente necessário, o líder consciente se torna o ponto de equilíbrio em meio ao caos. E isso faz toda a diferença.