O ambiente corporativo está demandando cada vez mais o desenvolvimento de habilidades interpessoais, lideranças com empatia, segurança emocional e ambientes de trabalho saudáveis.
Letícia de Oliveira Alves – psicóloga, palestrante e Idealizadora e Gestora do Projeto Café com os Psicólogos que atuam no SUAS (Sistema Único de Assistência Social)
Dias desses, tropecei num artigo sobre como conversar com a Inteligência Artificial (IA). Dizia que, se não soubermos descrever com clareza o que queremos, se não fizermos as perguntas certas, as ferramentas não nos darão boas respostas. No auge da IA, ironicamente, podemos não aproveitar seus benefícios por simples falha de comunicação. Isso me fez pensar em como algo similar acontece em nossas relações humanas.
A correria do dia a dia fez da pressa inimiga da comunicação. Falar é tão natural que subestimamos a necessidade de organizar nossas palavras. Muitas vezes, não temos clareza do objetivo de uma conversa e nos perdemos em divagações, misturando groselhas com abobrinhas. Isso é especialmente visível no ambiente corporativo.
Nas organizações, reuniões intermináveis são um exemplo clássico. Falamos, falamos, ouvimos, ouvimos e, no final, parece que nada foi resolvido. O motivo? Não sabemos falar exatamente o que queremos. Definir o objetivo central de uma conversa é como usar uma bússola, um ponto de reencontro livre de distrações. Sem isso, qualquer demanda extra vira um desvio e a eficiência se perde.
Além disso, precisamos aceitar que nem sempre teremos respostas imediatas como na Inteligência Artificial. Ouvir é fundamental na comunicação e pedir tempo para pensar e elaborar um posicionamento é essencial na inteligência humana. Num contexto em que cada convite deve ser avaliado, cada proposta analisada e cada feedback absorvido, é vital conceder tempo para construir respostas de forma assertiva.
Embora muitas vezes se diga que “tempo é dinheiro”, a pressão constante por respostas rápidas nos deixa ansiosos e estressados, afetando a qualidade da comunicação e dos resultados. Investir tempo na comunicação pode evitar mal-entendidos e retrabalho, economizando recursos a longo prazo.
Não é por acaso que o Brasil lidera o ranking mundial de ansiedade, de acordo com dados da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). A pesquisa do Lab Olga Think 2023 mostra que 45% das mulheres brasileiras têm algum diagnóstico de saúde mental; a cada dez mulheres, seis têm ansiedade.
Nesse cenário, o mundo corporativo exige cada vez mais desenvolvimento de soft skills, lideranças humanizadas, segurança psicológica e ambientes saudáveis para um bom trabalho. Empresas que reconhecem esses desafios e se adaptam para criar um ambiente mais acolhedor e compreensivo estarão à frente na retenção de talentos e na promoção de um clima organizacional positivo.
Comento sempre a respeito de que desenvolver o hábito de usar uma linguagem positiva no dia a dia pode fazer toda a diferença. Imagine uma pessoa ansiosa ouvindo “não vai gaguejar, hein” ou “não se esqueça de que você está sendo avaliado” ou “esse projeto será decisivo para sua promoção”. Essas palavras são como lenha na fogueira emocional, fazendo que o colaborador entenda isso de maneira negativa, afetando seu desempenho.
Portanto, é fundamental transformar esse diálogo em algo positivo, como “dê o seu melhor nessa reunião” ou “faça o seu melhor brilhar nesse projeto”. Não somos responsáveis pela saúde mental de ninguém, mas somos responsáveis pela qualidade das nossas interações. Em um ambiente corporativo, uma comunicação positiva e empática não só melhora o bem-estar dos colaboradores, mas também eleva a produtividade e a satisfação geral no trabalho.
Transforme a crítica em um novo desafio
Novos objetivos, com direcionamento claro, são bem-vindos. Quando a melhoria necessária é técnica (hard skill), sugerimos uma nova especialização, um curso, um job. Mas quando a questão é comportamental ou emocional (soft skill), é comum apontar o problema sem oferecer direções claras.
Combine novos desafios baseados nas áreas a serem melhoradas e busque indicações de como consegui-los. Inclua nos PDIs (Plano de Desenvolvimento Individual) a necessidade de acompanhamento com um psicoterapeuta. A psicoterapia cognitiva comportamental, por exemplo, trabalha com soft skills. Atualmente, muitas pessoas procuram desenvolver liderança, comunicação, gestão de tempo e de pessoas, paciência, capacidade de ouvir, de se expressar ou de sair dos bastidores.
Outro ponto importante nas relações interpessoais é focar no que o colaborador faz bem e ajudá-lo a se desenvolver em novas áreas. O contrário fica muito pesado. Um bom desempenho no trabalho passa por um colaborador saudável. Saúde também significa bem-estar mental e social, e o local de trabalho pode influenciar muito na saúde mental. Uma comunicação bem pensada pode ser um remédio na vida das pessoas, transformando relações trabalhistas e empresas em uma rede de apoio.
O cenário atual da saúde mental pede uma tecla SAP de empatia nos nossos diálogos. Afinal, até a IA não está entendendo o que queremos. Como diria aquela música: “Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer”.