“O conceito de educação ao longo da vida é a chave que abre as portas do século XXI; ele elimina a distinção tradicional entre educação formal inicial e educação permanente”, afirma Jacques Delors, no relatório “Educação: um tesouro a descobrir”, da Unesco.
Jacques Delors resumiu muito bem o que é o lifelong learning, que pode ser traduzido como aprendizagem ao longo da vida ou educação continuada. O conceito parte do princípio de que o modelo tradicional de educação perpetuado ao longo do século 20, que se limita aos sistemas escolares formais, do ensino básico à pós-graduação, já não é suficiente para preparar as pessoas, mantê-las atualizadas, competitivas e produtivas.
Nesse sentido, investir em lifelong learning significa estimular de maneira voluntária, proativa e permanente o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo, a partir das mais diversas experiências de aprendizagem. Além do campo da educação, o conceito tem sido adotado no ambiente corporativo para incentivar o fortalecimento de uma cultura organizacional que valorize o processo de aprendizagem entre os colaboradores.
Afinal, em um mercado de trabalho tão competitivo, já não basta ao profissional o domínio de uma função. É preciso um processo de formação contínuo, que o ajude a desenvolver um conjunto de habilidades pessoais e profissionais para lidar com os desafios do ambiente corporativo e do mercado de trabalho.
O conceito se baseia em quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
Aprender a conhecer – É necessário reter o conhecimento adquirido e, para isso, a pessoa precisa ter prazer pelo assunto. Quando ela tem interesse, passa a exercitar a memória e a atenção, multiplicando o seu saber. Isso é possível ao combinar o aprendizado de uma cultura geral com estudos mais aprofundados e pontuais, abrindo espaço para novos conhecimentos por toda a vida.
Aprender a fazer – Ainda que a teoria seja fundamental para o processo de aprendizagem, é por meio da prática que o indivíduo vai exercitar o que aprendeu até que o novo conhecimento se torne um hábito. Sendo assim, o colaborador precisa realizar tarefas que desenvolvam as habilidades comportamentais necessárias para o trabalho.
Aprender a conviver – Os seres humanos têm muito a aprender uns com os outros e, por esse motivo, saber se relacionar é fundamental. É preciso lidar com as adversidades, entender a percepção do outro e resolver conflitos para que a troca de aprendizado aconteça.
Aprender a ser – Odesenvolvimento humano também é um importante pilar para elevar conhecimentos. Quando a pessoa tem autonomia para estudar coisas novas e ser disruptiva, agrega valor à sociedade por meio da inovação. Sendo assim, é preciso estimular esse potencial independente.
A importância dessa prática nas empresas
De acordo com a pesquisa “O Futuro do Trabalho”, metade das profissões que vemos hoje no mercado poderão ser extintas nos próximos 30 anos. Logo, a formação acadêmica não fornece nenhuma garantia para que o colaborador permaneça nesse novo mercado. A aprendizagem contínua estimula o desenvolvimento desse conhecimento que, apesar de ter começado na educação tradicional, precisa ser estimulado por outros meios à medida que essas necessidades são descobertas. Trata-se de uma luta pela sobrevivência no mercado em meio aos impactos da transformação digital.
Inclusive, muitos recrutadores já têm buscado essa habilidade de aprendizagem ainda no processo seletivo, uma vez que as empresas precisam lidar com assuntos inovadores. Portanto, o lifelong learning prepara esses profissionais para serem adaptáveis.
À medida que tendências inovadoras são inseridas no mercado, a empresa precisa se adequar rapidamente a elas para se manter e, até mesmo, utilizá-las como diferencial competitivo. Então, a educação continuada proporciona à gestão esse apoio, uma vez que os colaboradores se atualizam rapidamente conforme o cenário atual. Quando a empresa tem um processo de aprendizagem contínua, investe na qualificação constante dos seus próprios profissionais. Isso colabora na retenção de talentos, aumento da proatividade e melhora do clima organizacional, pois o colaborador se sente motivado a aperfeiçoar seu desempenho constantemente.
“Longe de concorrer ou questionar a educação formal, o lifelong learning é um importante aliado, que pode ser explorado nas Instituições de Ensino Superior como forma de instigar os alunos em seu processo de aprendizado e também incentivar seu desempenho acadêmico, pessoal e profissional”, afirma Flora Alves, CLO da SG – Aprendizagem Corporativa.
A especialista pontua que para isso, pode-se, por exemplo, criar uma grade diferenciada de disciplinas, que estimulem atividades extracurriculares de autoaprendizagem. “Outra possibilidade é a oferta de cursos de curta duração e treinamentos on-line, que proporcionem aos estudantes o desenvolvimento de diferentes habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. Além de beneficiar a comunidade acadêmica, uma IES que investe no processo de formação continuada também tem a possibilidade de explorar novos públicos, com a oferta de cursos de curta duração, treinamentos ou capacitações direcionados aos profissionais que desejam se manter atualizados. Bons exemplos são o e-learning e métodos inovadores que estimulam o aprendizado de maneiras diferentes, como gamificação, apps, trilhas de aprendizagem e pílulas do conhecimento”, finaliza.