Rompendo o status quo na volta da licença-maternidade

Por Redação Mundo RH 198 Visualizações
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Uma família moderna desafia as normas sociais

Por Alana Mendes – Chief People & Culture Officer na Flash

Na semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, eu convido a todos, e principalmente a todas, a avaliar friamente a nossa sociedade, sua configuração e os preconceitos arraigados por séculos de um patriarcado que se mantém irredutível na maioria dos núcleos familiares. Sou mulher, esposa, mãe e profissional em cargo de alta liderança. Essa estrutura pessoal que construí e o sucesso que alcancei durante toda a minha vida não me tornaram imune aos julgamentos, muito menos ao escrutínio público quando me perguntam: “Com quem seu bebê está neste momento”.

Durante algum tempo, esse questionamento me incomodou. Mas, para explicar isso, precisaremos voltar um pouquinho no tempo. Então, permita-me apresentar minha história:

Sou Alana Mendes, Chief People & Culture Officer da Flash, plataforma de gestão da jornada de trabalho que oferece soluções para a gestão de benefícios, despesas e pessoas. Tenho quase 20 anos de experiência, uma carreira linda e um companheiro que sempre me apoiou (e continua a me apoiar) em tudo. No último ano, nos tornamos pais do adorável Gabriel, de 8 meses de idade. Minha licença-maternidade foi plena: pude dividir meus anseios, medos e alegrias com a pessoa que escolhi e pude aproveitar cada minuto com nosso bebê.

Mas, após os 6 meses de licença-maternidade, eu e meu esposo nos vimos em um dilema. Sem uma rede de apoio real, com quem deixaríamos o nosso bebê?

Claro que tínhamos inúmeras opções, diferentemente de grande parte das mães brasileiras, que não têm acesso a creches ou ajuda necessária. Poderíamos optar por creches particulares ou por contratar uma babá, mas concluímos que não queríamos nos ausentar por grandes períodos e correr o risco de perder a primeira palavra, a introdução alimentar, os dentinhos nascendo, os primeiros passos e tudo aquilo que deixa qualquer pai e mãe babando.

Não foi um processo fácil, mas concluímos que o melhor seria que Gabriel fosse acompanhado por nós em seus primeiros anos de vida. Estávamos em um momento de avaliação – pessoal, profissional e familiar – em que precisaríamos tomar decisões difíceis se quiséssemos realmente participar do desenvolvimento do nosso bebê.

Após muita conversa, nos despimos de qualquer preconceito e optamos por um modelo ainda considerado não convencional de família. Eu mantive meu emprego e ele abriu mão da carreira de mixologista para se dedicar 100% à nossa família. Nós entendemos que seria mais fácil que ele retomasse sua carreira após um ou dois anos do que eu. E essa decisão também foi facilitada por conta do apoio da Flash e dos meus superiores, que sempre entenderam meu desejo de ser mãe, minhas necessidades profissionais e apoiaram minhas escolhas.

Quando me pego a pensar no caminho que seguimos, sinto orgulho por estar ajudando a romper paradigmas que há séculos definem o status quo da sociedade: lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos, enquanto o marido assume o papel de provedor.

Estranho pensar que em 2024 ainda temos esse tipo de pensamento. Do mesmo jeito que, após tanta luta por igualdade de gênero, inúmeras mulheres ainda passam pelo julgamento por ‘não trabalhar’ e decidirem ficar em casa e educar os filhos. Nesse cenário, eu me orgulho de fazer parte de uma empresa que não compactua com segregação de gênero.

Cuidar da casa, educar os filhos, estar presente para o marido e para toda a família é um tipo de trabalho invisível. Isso sem contar que se trata de uma atuação não remunerada e diminuída aos olhos de boa parcela da população. Lavar, passar, cozinhar, dar banho nas crianças, levar para a escola não é e não pode ser considerado um trabalho menor do que sair todos os dias para ir ao escritório. E jamais deveria ser pauta de julgamento caso esses papéis se invertam.

Enquanto eu e meu marido vivemos nosso sonho de família, acompanhamos a evolução deste tema em outra esfera, o Estado Brasileiro, que aprovou uma nova legislação de equiparação salarial e a ampliação da licença-paternidade (Lei nº 14.611). Após décadas de discussões, finalmente ganha forma jurídica e pode auxiliar milhares de famílias que, diferentemente da minha, não têm condições de que um dos cônjuges pare de trabalhar fora para cuidar do núcleo familiar estabelecido.

Excluindo nosso julgamento cultural e o medo de como poderíamos ser vistos no nosso meio social, eu e ele optamos pelo que nos faria felizes como família, que era saber que um de nós estaria cuidando do que nos é mais precioso, nosso filho. Após três meses, concluímos que ao nos despirmos daquilo que o mundo ao redor desenha para nós como casal e como família, temos muito mais firmeza para dizer que até aqui tomamos a decisão certa.

Somos uma família considerada não convencional, mas me orgulho do trabalho desempenhado pelo meu esposo, amo chegar em casa e ver que nosso filho está crescendo cheio de amor e cuidado e que não tivemos medo de romper com o modus operandi da maioria, que não nos rendemos e que meu marido me apoia na minha profissão, que eu posso ir ao escritório sabendo que ao chegar em casa tudo vai estar bem. Assim, a gente continua se organizando diariamente e, como podemos e como queremos, vamos rompendo com os preconceitos e quebrando os tabus.

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