Mesmo fora do regime CLT, motoristas de aplicativo registram renda líquida superior à de profissionais formalizados e apontam uma nova dinâmica no mercado de trabalho brasileiro.
A profissão de motorista de aplicativo tem chamado atenção por representar uma das ocupações em ascensão no Brasil, com rendimento líquido superior à média das profissões mais comuns com carteira assinada. Mesmo fora do regime CLT, esses trabalhadores têm conquistado espaço no mercado e gerado renda relevante nas principais capitais do país.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, as cinco ocupações formais mais frequentes no Brasil são: assistente administrativo (2,1 milhões de empregos), auxiliar de escritório (1,9 milhão), vendedor do comércio varejista (1,8 milhão), faxineiro (1,7 milhão) e caminhoneiro (1,2 milhão). Juntas, essas profissões somam 12,9 milhões de empregados formais, com uma remuneração média mensal de R$ 2.298.
Paralelamente, cresce o número de trabalhadores por aplicativo. Segundo pesquisa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), entre maio de 2023 e abril de 2024, o Brasil registrou 1,72 milhão de motoristas atuando por plataformas digitais — um aumento de 35% em relação ao período anterior. O número de entregadores também subiu, chegando a 455 mil, um crescimento de 18%. Ao todo, são 2,2 milhões de pessoas trabalhando por meio de aplicativos no país.
A renda líquida desses profissionais se destaca entre as chamadas “profissões de base”. Em São Paulo, por exemplo, um levantamento do GigU (antigo StopClub) mostra que motoristas de aplicativo têm um faturamento mensal médio de R$ 8.571,42. Após descontar gastos com combustível, IPVA e manutenção, o lucro líquido mensal é de R$ 3.701,31, com uma jornada de trabalho de 60 horas semanais. No Rio de Janeiro, o lucro mensal é de R$ 3.210,77, com uma jornada de 54 horas semanais.
Os números deixam claro que, apesar das longas jornadas e dos custos operacionais, essa atividade pode proporcionar uma renda líquida superior à média das profissões formais mais comuns no país. No entanto, é importante considerar que a maioria desses trabalhadores atua como autônomos, sem os benefícios e a segurança jurídica proporcionados por um emprego com carteira assinada.
Luiz Gustavo Neves, CEO e cofundador da plataforma cujo foco é apoiar motoristas de aplicativo por meio de soluções colaborativas, alerta para os desafios enfrentados por esses profissionais:
“É comum vermos motoristas estendendo suas jornadas para garantir um rendimento maior, ainda que isso signifique lidar com exaustão e gastos elevados. A liberdade de escolha e o potencial de lucro continuam sendo diferenciais importantes”, afirma.
O mercado de trabalho brasileiro caminha para uma maior diversificação das formas de ocupação. Enquanto as profissões tradicionais continuam a empregar milhões de brasileiros, as novas modalidades de trabalho, como as plataformas digitais, ganham espaço e desafiam as estruturas laborais existentes.
A valorização do trabalho em todas as suas formas — seja formal, informal, presencial ou digital — é essencial para garantir condições dignas, sustentáveis e seguras para os trabalhadores no país.