Priorizar a carreira não é egoísmo — é coragem. E personagens como Solange ajudam a quebrar o tabu da mulher ambiciosa que escolhe crescer sem pedir desculpas.
Por Thaís Roque, escritora, expert em carreira, mentora e criadora do TR Circle
Toda vez que uma mulher ambiciosa coloca um projeto na frente de um compromisso pessoal, alguém faz cara feia. E, quase sempre, essa expressão vem carregada de julgamento — como se priorizar a própria carreira fosse uma espécie de desvio de conduta. A novela muda, o contexto muda, mas o script é o mesmo.
Solange, uma diretora criativa competente, cancela uma viagem porque tem um projeto para entregar. E a reação? Vem o clássico: “você só pensa no trabalho”, como se isso a desqualificasse como pessoa. Foi o que vi nas cenas da Vale Tudo original — e agora, no remake de 2025.
Na nova versão, a situação envolve uma sabotagem da vilã. E mesmo assim, o incômodo geral não é com a injustiça da perda do projeto, mas com o fato de ela seguir priorizando a entrega.
Essa narrativa me interessa. Porque ela é familiar para muita gente — especialmente para quem está construindo algo maior do que uma simples carreira. Quem tem missão, visão de impacto, quem deseja criar algo que vá além do benefício próprio sabe: isso exige foco.
Falar sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional não deveria ser sinônimo de suavizar ambições. Equilíbrio não é concessão — é estratégia. E, como toda estratégia, requer prática. Vamos aprendendo com o tempo. É saber em quais momentos acelerar e em quais frear, sem acreditar que estar em “modo turbo” é um problema em si.
Nas minhas mentorias, uma das conversas mais recorrentes é sobre culpa. E o que eu sempre digo é: nem todo desconforto do outro é um sinal de desequilíbrio em você. Às vezes, é só o mundo reagindo ao fato de você estar, finalmente, colocando seus planos em primeiro lugar.
Sim, é fundamental ter tempo para si, nutrir vínculos, se desligar do modo “entregas”. Mas também é essencial compreender que nem toda cobrança externa vem de cuidado. Muitas vezes, vem de quem não sabe lidar com o seu ritmo, com o seu tamanho, com a sua potência.
Se há algo que aprendi ao longo da minha jornada — e que vejo representado em personagens como Solange — é que você não precisa se justificar por amar o que faz, por ser apaixonada pela sua carreira. O que você precisa é garantir que está vivendo em sintonia com o que faz sentido pra você.
Crescer incomoda. Ambicionar assusta. Mas seguir em frente com clareza e propósito vale mais do que qualquer roteiro previsível de novela.