As pesquisas qualitativas e quantitativas podem ser uma ferramenta poderosa, permitindo atingir um grande número de pessoas a fim de colhermos as percepções e informações necessárias para se entender o cenário
Por Renata Caetano, Head de Gente, Cultura e Comunicação do Brain, centro de inovação da Algar Telecom
Se direcionarmos nossa lente para os avanços que tivemos enquanto sociedade desde o início da pandemia, certamente uma visão mais humana dentro das empresas se revelará. A partir do momento que as fronteiras entre vida pessoal e profissional desabaram diante de crianças e pets surgindo no meio de videoconferências, ficou claro que, na verdade, essa divisão nunca havia de fato existido.
Como reflexo disso, desde então muitas organizações têm se esforçado para olhar para as pessoas além dos números e funções, entendendo suas necessidades a partir de um olhar mais individual e atento. Não adianta mais falarmos de “colaboradores” como se eles formassem um grupo único, homogêneo. É hora de direcionarmos nossa atenção para as pessoas e entender como a organização pode contribuir para que aquele indivíduo se sinta bem, acolhido, e possa assim, alcançar o seu pleno potencial.
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Ouvimos com frequência, principalmente no mundo do ágil, a expressão “colocar o cliente no centro”. Mas, se criamos métodos para ouvir atentamente às necessidades de nossos clientes e desenvolvemos soluções disruptivas a todo o momento para resolver suas principais dores, por que não adotar esse mesmo conceito para nosso público interno? A escuta ativa é uma ferramenta poderosa para compreender as necessidades e diferenças. Logo, momentos estruturados de escuta para identificar as necessidades dos colaboradores precisa estar na pauta das empresas.
Neste sentido, as pesquisas qualitativas e quantitativas podem ser uma ferramenta poderosa, permitindo atingir um grande número de pessoas a fim de colhermos as percepções e informações necessárias para se entender o cenário. A partir daí, o conteúdo das respostas nos ajuda a identificar potenciais melhorias e pilares a serem trabalhados. Isso será um norteador sobre o que pode mudar, sendo a base de um plano de ação. No Brain, foi a realização desse tipo de pesquisa que nos permitiu entender as necessidades dos times, das pessoas e principalmente, estabelecer diálogos para a busca de soluções que atendessem não somente ao coletivo, mas o individual.
Notamos, por exemplo, que a adoção de um modelo de benefícios flexíveis, que permitisse ao colaborador decidir a melhor forma de uso de acordo com suas necessidades era algo desejado e que traria um alto nível de satisfação e ganho pessoal. Na metodologia ágil, também sempre falamos na importância da autonomia – e dar poder de escolha às pessoas tem total relação com isso.
A pesquisa também nos permitiu perceber algumas dificuldades enfrentadas pelas pessoas no trabalho remoto durante o período da pandemia. Problemas de adaptação ao trabalho em casa, questões familiares, ansiedade e outros pontos delicados relatados por eles nos levaram a criar o Home Office Talks, que eram momentos de conversa organizados pelo time de Gente para que os colaboradores pudessem falar entre si sobre essas dificuldades, compartilhar experiências, dicas e insights. Em muitos casos, notamos que a sugestão de um colega que estava passando pela mesma situação poderia ser valiosa para a vida de outra pessoa, além de criar um senso de comunidade e de rede de apoio. Eram espaços seguros onde conseguíamos trabalhar a segurança psicológica, fortalecendo as pessoas e seus laços com os outros.
Para saber se iniciativas como essas estavam sendo eficazes na prática, implementamos ainda uma ferramenta de “humor diário”, para que todos pudessem contar como estão se sentindo. Essa plataforma também trouxe importantes insights para nossa atuação voltada para Gente.
E como resultado de toda essa jornada de escuta e ações implementadas, após somente quatro meses, observamos um aumento significativo de 37 para 80 pontos no indicador Employee Net Promoter Score (eNPS) – métrica utilizada para mensurar o nível de satisfação perante um serviço ou empresa – alcançando uma zona de excelência que é mantida até hoje.
Percebemos que, se podíamos solucionar o que realmente importa para cada colaborador, teríamos mais chances de reter talentos e melhorar o desempenho de cada profissional. Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. Ou seja: não é difícil comprovar que a maneira como tratamos as pessoas se reflete imediatamente no seu comprometimento com a empresa e na sua satisfação pessoal.
É claro que qualquer emprego envolve tarefas, reuniões, conversas difíceis. Entretanto, se as pessoas se sentirem genuinamente amparadas e atendidas pelos seus líderes, colegas e pela organização, as chances de passarem por situações difíceis com mais tranquilidade e confiança aumentam muito. É como se a empresa falasse: você, como indivíduo, é realmente importante para todos nós.