Como a liderança adaptativa está redefinindo o papel dos gestores ao integrar inteligência artificial, colaboração humana e tomada de decisão estratégica.
Alexandre Paoleschi – CEO da KYMO Investments e fundador da Fenix DFA.
Durante muito tempo, o papel da liderança esteve associado à figura de alguém que detinha todas as respostas. Esperava-se que líderes fossem oráculos, centralizadores, os únicos capazes de tomar decisões complexas. No entanto, o cenário atual, marcado por transformações tecnológicas aceleradas e novas dinâmicas de trabalho, exige um modelo de liderança radicalmente diferente. Ou seja, hoje, liderar bem não significa saber tudo, mas sim saber com quem contar — e isso inclui tanto pessoas quanto máquinas.
A liderança mais eficaz, agora e no futuro, será aquela que combina o melhor do potencial humano com as capacidades exponenciais da Inteligência Artificial (IA). Essa abordagem não substitui o líder; pelo contrário, amplia sua visão e sua capacidade de gerar impacto.
Diante disso, entra em cena a chamada liderança adaptativa: um novo panorama de gestão que enfatiza a flexibilidade e a capacidade de adaptação às mudanças e desafios complexos em tempos de constante inovação. De acordo com o estudo The Business Opportunity of AI, do IDC, o uso da IA generativa saltou de 55% em 2023 para 75% em 2024. Além disso, uma pesquisa da Microsoft apontou que, em 2023, líderes de micro, pequenas e médias empresas de diversos setores passaram a olhar com mais atenção para a IA — sendo de uso frequente para 74% deles.
Pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) também enxergam a IA como um recurso positivo para as empresas, apontando que aquelas que conseguem integrar eficientemente recursos tangíveis, intangíveis e humanos à tecnologia estão mais bem posicionadas para obter vantagens competitivas e contribuir para o desenvolvimento sustentável. Com essas tecnologias, os líderes descentralizam decisões, promovem a autonomia dentro das equipes e incentivam cada profissional a agir como um “micro-líder” em sua área de atuação.
Nesse contexto, a IA não surge como ameaça, mas como aliada estratégica: a tecnologia que ajuda a processar dados, automatizar tarefas e liberar tempo para aquilo que realmente importa — o pensamento crítico, a criatividade e a conexão humana.
Pessoalmente, não vejo motivos para temer a Inteligência Artificial. Vejo nela uma parceira de trabalho capaz de realizar tarefas que não me motivam ou que não demandam o pleno uso das minhas competências humanas. Isso me permite concentrar esforços onde posso ser mais relevante — e acredito que esse é um dos principais papéis da liderança: criar as condições para que todos prosperem, inclusive o próprio líder.
Uma boa liderança reconhece que não sabe tudo, contrata pessoas melhores em diversas áreas e vai além: constrói sistemas sustentados por pessoas e por IA que, juntos, formam uma inteligência coletiva superior a qualquer indivíduo isolado. Segundo especialistas em Recursos Humanos, o Brasil ainda carece de bons líderes — e isso pode afetar o crescimento das organizações.
Concluo que o verdadeiro desafio da atualidade não está em competir com a IA, mas em aprender a utilizá-la com sabedoria para aprimorar decisões e ampliar o alcance das nossas ações, melhorando, assim, os aspectos das nossas lideranças.
Estamos diante de uma oportunidade histórica de redesenhar o conceito de liderança. Mas isso exige coragem para abandonar velhos modelos, abertura para experimentar novas formas de trabalhar e disposição para colaborar com tecnologias emergentes.
A pergunta que deixo é: estamos prontos para liderar com pessoas, potencializados pela inteligência artificial?